Um casal de mineiros está na estação a espera do trem. Em certo momento a locomotiva apita na curva avisando que está se aproximando da estação. O homem rapidamente diz para a mulher: -Pega “os trem” que lá vem a coisa.
Trem para os mineiros tem mesmo um significado muito especial. Parece brincadeira, mas não é, parece nostalgia, mas também não é.
Sem querer ser nostálgico, mas imaginar trens de passageiros cortando a região metropolitana de BH parece uma volta ao passado, com um forte componente de futuro.
O tema começa a ser debatido na Câmara Municipal de Belo Horizonte, e não é papo de bastidor, ou articulação de corredor. Foi realizada uma audiência pública, no último dia 8, com movimentos sociais, especialistas, trabalhadores ferroviários e pesquisadores para discutir o futuro da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). No centro do debate, a iminente renovação do contrato de concessão da ferrovia, prevista para ocorrer automaticamente em 2026.
Há um movimento, porém, que quer puxar o freio de mão: a volta do trem de passageiros na Grande BH. Para eles, a renovação automática não é suficiente. São quase 30 anos de concessão, e a FCA fez pouco – muito pouco – para revitalizar o transporte ferroviário de passageiros. O que eles defendem é um novo contrato, que contemple não apenas o transporte de cargas, mas a volta dos vagões ocupados por pessoas. E parece que essa história pode, finalmente, ganhar um novo ritmo.
Durante a audiência, um representante do Governo Federal afirmou que estudos para o desenvolvimento de duas linhas metropolitanas devem começar em breve. O objetivo é reativar um serviço que, além de nostálgico, é necessário. Menos trânsito, menos poluição, mais eficiência. Trens possuem o benefício de trafegar sem interrupções – nada de semáforos, nada de buzinas, nada de engarrafamentos.
Muitos talvez não saibam, mas Belo Horizonte já teve diversos ramais ferroviários: Barreiro-Calafate, Matadouro-Betim, Belo Horizonte-Rio Acima, entre outros. Eram tempos em que viajar de trem não era apenas uma opção, mas uma realidade. E a proposta atual visa resgatar essa memória e, mais do que isso, trazer soluções para um trânsito que parece cada vez mais à beira do colapso.
O desafio, contudo, vai além dos trilhos. Exige infraestrutura, investimentos e, acima de tudo, vontade política. O trem metropolitano em Belo Horizonte pode voltar a apitar, mas será que vai sair da estação? Será que o governo, em meio a tantas dificuldades em dialogar sobre parcerias público-privadas, será capaz de promover uma solução de mobilidade realmente eficiente?
É hora de deixar a nostalgia de lado e pensar no trem como o futuro. Porque enquanto o apito não soa, seguimos presos no trânsito, respirando fumaça e perdendo tempo – esse recurso tão escasso. Que o próximo apito não seja apenas um eco do passado, mas um sinal de que, finalmente, voltamos aos trilhos.