O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, usou a COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém do Pará, para cobrar ação imediata dos países e apresentar novas iniciativas da agenda climática brasileira.
Na abertura do segmento de Alto Nível e da 4ª reunião conjunta da COP30, diante de cerca de 160 ministros e representantes de alto escalão de diversos países, Alckmin afirmou que a conferência realizada no Brasil deve marcar uma nova fase no regime climático.
“O tempo das promessas já passou. Cada fração de grau adicional no aquecimento global representa vidas em risco, mais desigualdade e mais perdas para aqueles que menos contribuíram com o problema”, disse.
Segundo o vice-presidente, a COP30 precisa ser lembrada como a conferência da responsabilidade e da implementação.
“É a Conferência da Verdade, da Implementação e, sobretudo, da Responsabilidade. Com o planeta, com as pessoas e com as gerações que ainda virão. Cada decisão tomada hoje deve preservar as condições de vida na Terra e assegurar justiça entre as gerações”, afirmou.
Compromissos do Brasil e papel da Amazônia
No discurso, Alckmin reforçou os compromissos climáticos assumidos pelo Brasil. Ele citou a redução de 50% do desmatamento na Amazônia e a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2030.
O vice-presidente destacou ainda a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, classificada como ousada, que prevê reduzir entre 59% e 67% das emissões líquidas até 2035, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que mobiliza bilhões de dólares para conciliar preservação e inclusão socioeconômica.
A Amazônia foi apresentada como símbolo da relação entre preservação ambiental, desenvolvimento sustentável e dignidade humana.
“Proteger a floresta é proteger as pessoas. A vida humana e a natureza são inseparáveis. Os povos indígenas e comunidades tradicionais são guardiões desse patrimônio, e a Amazônia deve provar que é possível crescer, produzir e conservar ao mesmo tempo”, declarou.
Em outra fala, Alckmin reforçou a responsabilidade brasileira sobre o bioma.
“Somos guardiões de um dos maiores biomas do planeta, e a Amazônia é peça vital para o equilíbrio climático global. Nosso compromisso, de todos nós: elaborar os mapas do caminho para a transição energética e o fim do desmatamento ilegal”, afirmou.
Carta da Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial
No Pavilhão Brasil, na Green Zone da COP30, o vice-presidente lançou e assinou a carta de compromisso da Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial (ENDI), construída em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A diretriz pretende acelerar a redução de emissões em setores como siderurgia, alumínio, cimento, papel e celulose.
Alckmin enfatizou a urgência climática e a necessidade de transformar metas em ações concretas. “É urgente reduzir a emissão de carbono e gases de efeito estufa”, disse, ao criticar o desequilíbrio provocado pelo uso intensivo de combustíveis fósseis.
De acordo com o governo, a ENDI se estrutura em quatro eixos principais:
- pesquisa e inovação;
- substituição de insumos fósseis por alternativas sustentáveis;
- estímulo ao consumo de produtos de baixo carbono;
- instrumentos de financiamento e incentivos fiscais.
O compromisso foi assinado por Alckmin e pelo vice-presidente da CNI e presidente da Fiepa, Alex Carvalho, consolidando uma aliança entre governo e setor produtivo para impulsionar a economia de baixo carbono.
O vice-presidente citou também os avanços do programa Nova Indústria Brasil e usou o exemplo da reciclagem para ilustrar o impacto econômico da transição verde.
“Se eu pegar a latinha e reciclar, gasto muito menos energia. Ajuda a combater a inflação e reduz custos”, afirmou.
Plataforma Recircula Brasil e programa Coopera + Amazônia
A agenda de Alckmin em Belém incluiu ainda o lançamento da Plataforma Recircula Brasil, voltada ao monitoramento e certificação de cadeias de reciclagem. O esforço busca ampliar a recuperação de resíduos em um cenário em que, segundo estimativas mencionadas pelo governo, apenas 8% dos resíduos sólidos urbanos são reciclados no país.
No fim do dia, no Pavilhão do BNDES, o vice-presidente apresentou o programa Coopera + Amazônia, dedicado ao fortalecimento de cooperativas e cadeias produtivas da bioeconomia na região. A iniciativa se soma às ações que visam conectar geração de renda, conservação florestal e inclusão social.
Posicionamento internacional e transição energética
Na plenária de alto nível da COP30, Alckmin afirmou que o Brasil chega à conferência reafirmando o compromisso com a energia limpa e a transição energética justa.
“Temos a matriz energética mais renovável entre as grandes economias e somos pioneiros em biocombustíveis e bioenergia”, disse.
O vice-presidente defendeu que a transição não pode “deixar ninguém para trás” e cobrou dos demais países a mesma urgência. “Convido os líderes aqui presentes a agirem com esse mesmo senso de urgência, de pragmatismo e de esperança. O tempo de agir é agora”, afirmou.
Ao mesmo tempo em que destaca o papel brasileiro na matriz renovável e na proteção da Amazônia, o governo apoiou o pleito da Petrobras para buscar petróleo na Margem Equatorial, na foz do Rio Amazonas, o que gerou críticas de especialistas diante da perspectiva de ampliação do uso de combustíveis fósseis. A licença foi concedida pelo Ibama em outubro, sob a justificativa de que o órgão constatou a segurança técnica do projeto.
Alckmin defendeu que o enfrentamento da crise climática exige combinação de ética, ciência, solidariedade e cooperação entre governos, empresas e comunidades. “Ética, ciência e solidariedade precisam andar juntas”, resumiu.
COP30 como marco da implementação
Segundo o vice-presidente, a COP30 realizada no Brasil deve marcar a passagem de um ciclo centrado na negociação para uma fase voltada à implementação das metas climáticas. A expectativa do governo é que a conferência deixe como legado iniciativas para ampliar a energia limpa, enfrentar o desmatamento e fortalecer a cooperação internacional.
Ao longo das agendas em Belém, Alckmin buscou associar os anúncios internos, como a descarbonização industrial e os programas de reciclagem e bioeconomia, à defesa de metas globais compatíveis com o limite de 1,5°C e de um financiamento climático considerado mais justo em relação aos desafios dos países em desenvolvimento.