A Netflix perdeu bilhões em valor de mercado depois que uma disputa tributária no Brasil veio a público. O problema começou com uma cobrança retroativa da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), um tributo federal que incide sobre remessas ao exterior para pagamento de serviços.
A Receita Federal entende que a empresa deveria ter recolhido o imposto sobre o conteúdo licenciado por produtoras estrangeiras, o que poderia gerar uma cobrança bilionária. Essa disputa mostra, mais uma vez, como o ambiente tributário brasileiro é um dos mais complexos e imprevisíveis do mundo. A discussão não é nova e ainda há divergência sobre se a Cide deve ou não incidir sobre serviços digitais, especialmente quando as transações envolvem empresas sem presença física no país.
A incerteza jurídica e regulatória cria um ambiente de risco que afugenta investimentos e mina a confiança de quem faz negócios no Brasil. O impacto, porém, vai muito além da Netflix. Sempre que uma empresa é surpreendida por uma cobrança retroativa, o mercado entende que ninguém está seguro. Isso afeta o preço das ações, desestimula novos investimentos e, no fim, se traduz em produtos e serviços mais caros para os consumidores — como deve ocorrer também com as assinaturas.
As companhias repassam o aumento de custos para recompor suas margens. O mais grave é que essa insegurança virou regra. O Brasil tem hoje uma das maiores litigiosidades tributárias do planeta, com valores em discussão equivalentes a cerca de 20% do PIB. São leis mal redigidas, interpretações que mudam de governo para governo e decisões judiciais que criam ainda mais confusão.
Em economia, não existe alquimia. Quando o Estado cria insegurança e instabilidade, o capital responde cobrando mais caro — ou simplesmente indo embora. No fim, quem paga essa conta é sempre a sociedade: menos investimento, menos inovação e, nesse caso, um streaming mais caro no fim do mês.
Enquanto o país não simplificar seu sistema tributário e não garantir estabilidade nas regras, continuará afastando investimentos e comprometendo o crescimento. Segurança jurídica não é luxo — é condição básica para prosperar.
