O tão esperado encontro entre Lula e Donald Trump finalmente aconteceu durante a passagem de ambos pela Ásia. Um encontro simbólico, mas também revelador. E o principal aprendizado que ele traz é o de que, em economia, não existe alquimia, nem ideologia que dure muito tempo, porque, no fim das contas, a realidade econômica é imperativa, soberana e implacável.
O pano de fundo desse encontro é a recente política tarifária dos Estados Unidos que, inicialmente, parecia colocar o Brasil na linha de fogo das novas medidas protecionistas de Trump. Mas bastou uma análise mais detida dos impactos para que o próprio governo americano percebesse o óbvio: as tarifas fariam mais mal aos Estados Unidos do que ao Brasil. Foi isso que levou a uma série de exceções aos produtos brasileiros na lista de tarifas anunciadas lá em agosto.
Mas não se engane, isso não é fruto da força diplomática do Brasil, nem de um suposto protagonismo econômico. Muito pelo contrário, o fato de as tarifas não prejudicarem o Brasil é justamente o reflexo do nosso isolamento econômico, do protecionismo exacerbado e da falta de competitividade internacional. Em outras palavras, o Brasil só não saiu mais prejudicado porque não é competitivo em quase nada além de commodities.
Nossa economia continua fechada, dependente de exportações básicas e incapaz de ameaçar qualquer cadeia produtiva relevante de países desenvolvidos. O resultado das exceções tarifárias, no entanto, revelou algo bastante interessante. Os fundamentos econômicos continuam sólidos. Os Estados Unidos escolheram tarifar produtos em que não possuem vantagens comparativas, como as commodities agrícolas e minerais.
São produtos dos quais eles não são autossuficientes e para os quais não há substitutos imediatos no mercado internacional. Veja o caso do café. E o resultado foi previsível: a demanda pelos produtos brasileiros não caiu. Os preços subiram e os americanos acabaram pagando mais caro pelos mesmos bens ou optando por produtos de qualidade inferior. Isso é o que os economistas chamam de materialização de desvios de comércio. E aqui surge uma lição teórica relevante.
O que vimos na prática contradiz uma das mais antigas e influentes teorias econômicas do século XX: a teoria dos termos de troca, que orientou parte importante da formação da economia brasileira e ainda inspira muitos economistas heterodoxos. Segundo essa visão, países especializados em commodities estariam condenados a ver seus ganhos de troca se deteriorarem ao longo do tempo, ou seja, precisariam exportar cada vez mais para importar a mesma quantidade de bens industrializados.
Essa teoria pressupõe que os preços das commodities são altamente elásticos. Isso significa que, quando a oferta aumenta, os preços caem e o poder de compra dos exportadores se reduz. Mas o que os dados recentes mostram é exatamente o contrário. O Brasil nunca produziu tanto, nunca exportou tanto e nunca teve preços tão valorizados nas commodities, especialmente no agronegócio e na mineração.
Isso indica que a demanda global por esses produtos é muito mais inelástica do que se supunha e que o mundo, ao contrário do que muitos previam, continua dependendo de países produtores de matérias-primas para manter o equilíbrio de suas cadeias produtivas. Em outras palavras, os termos de troca não pioraram, melhoraram. A teoria dos termos de troca foi para o espaço, de acordo com as evidências econômicas mais recentes.
Por fim, é importante reconhecer um ponto diplomático crucial. As tarifas impostas pelos Estados Unidos não foram motivadas por razões políticas. Ao contrário de parte do discurso que tentou insinuar que o erro foi brasileiro, faltou proatividade, diálogo e, principalmente, humildade diplomática. O Brasil não procurou negociar, não apresentou alternativas e, mais uma vez, deixou claro que prefere a retórica ideológica à defesa dos seus interesses econômicos concretos.
De novo, o fato é que, em economia, não existe alquimia. A realidade sempre se impõe. As tarifas de Trump e o encontro com Lula demonstram que não há mágica capaz de substituir competitividade, nem discurso que compense ausência de estratégia. Quando um país não é competitivo, ele fica à mercê de outros e, quando insiste em ideologia, perde espaço nas mesas em que as decisões de verdade são tomadas.
O Brasil precisa entender que o comércio internacional é, antes de tudo, um jogo de interesses e eficiência, não de narrativas. E o mundo não espera por quem prefere discutir símbolos em vez de resultados.
