O uso excessivo da internet e das redes sociais por crianças e adolescentes tem gerado crescente preocupação entre especialistas em saúde mental ao redor do mundo. Em entrevista ao Deadline, da 98 News, desta quarta-feira (16/7) a psicóloga Janaína Silva, coordenadora de psicologia do Hospital da Baleia, alertou para os impactos emocionais e físicos que o ambiente digital tem causado na nova geração, especialmente quando não há acompanhamento e limites impostos pela família.
Dados recentes reforçam essa preocupação. Um estudo da organização KidsRights, em parceria com a Universidade Erasmus, aponta que um em cada sete jovens, de 10 a 19 anos, convive com algum tipo de transtorno mental, como ansiedade, depressão, TDAH, distúrbios alimentares ou síndrome do pânico. Já a Organização Mundial da Saúde estima que a taxa global de suicídio entre jovens de 15 a 19 anos chega a seis, a cada 100 mil.
“A criança busca por esse vício incessante, e passa a ter apatia, compulsões, sedentarismo e depressão. A dopamina no cérebro está ligada à compensação de prazer, e o digital oferece isso de forma constante”, explicou Janaína.
Segundo a psicóloga, os primeiros sinais de alerta costumam aparecer no comportamento: irritabilidade, isolamento, queda no rendimento escolar e dificuldade de aceitar limites. “Às vezes a criança está dentro do quarto e os pais nem sabem o que ela está fazendo. O sinal de alerta precisa ser ligado antes do sofrimento se instalar”, destacou.
O impacto do uso exagerado da internet, especialmente das telas, vai além da esfera emocional e afeta também o convívio social, o desempenho cognitivo e até a alimentação. Casos graves, segundo a especialista, envolvem automutilação, baixa autoestima, síndrome do pânico e desmotivação escolar.
“Não adianta culpar só as redes sociais. Os pais precisam dar o exemplo e estabelecer limites. Se eu fico no celular o tempo inteiro, como vou cobrar isso do meu filho?”, pontuou Janaína.
A psicóloga defende uma abordagem multidisciplinar para tratar os efeitos da internet: envolvimento de profissionais como psicólogos e psiquiatras infantis, diálogo com as escolas e principalmente a atuação da família. “A criança é, muitas vezes, o sintoma da educação que ela recebe. Não adianta tratar só ela, se não tratarmos também os pais e o ambiente familiar”, completou.
Janaína ainda sugere o uso de ferramentas de controle parental, o acompanhamento das atividades digitais e a valorização da convivência física como elementos essenciais para reduzir os danos. “O face a face ainda existe. E ele é fundamental”, concluiu.