Existem derrotas que gritam mais do que vitórias. O veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que aumentava o número de deputados federais não foi apenas um freio administrativo, foi uma freada brusca no jogo de poder do Centrão, que apostava suas fichas na expansão de cadeiras como forma de ampliar sua musculatura institucional. A resposta do Planalto veio em forma de negação, seca, estratégica e talvez até tardia, mas suficiente para derrubar expectativas infladas no Congresso.
O texto, aprovado a duras penas, com 270 votos na Câmara e no limite mínimo de 41 no Senado, agora desidrata no plenário vazio de ânimo para uma reação. Nem mesmo a habitual engenharia regimental de Davi Alcolumbre, que precisou abrir mão da presidência da sessão para garantir o quórum, será suficiente para ressuscitar o projeto. O prazo judicial já expirou, o recesso bate à porta e a frustração ecoa nos corredores legislativos como um lamento abafado.
O Centrão acuado
É curioso, e irônico, ver o Centrão acuado pelo cálculo político que tantas vezes soube operar. Afinal, esse mesmo grupo que domina o orçamento secreto, que ocupa ministérios e que impõe pautas-bomba com a destreza de um relojoeiro, agora tropeça na matemática legislativa e no timing jurídico. O poder, como se sabe, não perdoa desatenção.
Mas há algo maior nesse episódio: a decisão de Lula representa também um aceno para fora do Congresso. Ao barrar o aumento de deputados, medida impopular num país que já sente a política como um fardo, o presidente tenta colar em si um verniz de racionalidade fiscal e sensibilidade social. Afinal, quem explicaria ao eleitor a criação de novas cadeiras parlamentares em tempos de arrocho e descrença institucional?
Claro, não se trata de um gesto altruísta. O veto é também um recado claro de quem ainda quer mostrar que, mesmo cercado por forças centrípetas no Congresso, sabe dizer “não” quando o custo político é alto demais. Lula precisa mostrar força, e nesse caso, negá-la ao Centrão foi um ato de sobrevivência, de cálculo eleitoral.
Ao Centrão, resta lamber as feridas e reagrupar. Perder uma disputa que parecia ganha, com votos contados e acordos amarrados, é uma bofetada em quem se acostumou a ser protagonista. Pior: a derrota veio sem aplausos nem holofotes. Um silêncio institucional selado por um despacho no Diário Oficial.
No fim, o veto de Lula não é apenas uma negativa ao aumento de deputados. É uma dessas raras vezes em que o jogo de Brasília expõe suas vaidades, fragilidades e contradições. sem disfarces, sem discursos, sem plateia. E talvez por isso mesmo, tão revelador.