Criado por medida provisória em março, o Programa Crédito do Trabalhador permite que trabalhadores da iniciativa privada — incluindo MEIs — solicitem empréstimos com desconto em folha. Considerando a margem consignável de R$ 901, o salário médio dos solicitantes gira em torno de R$ 2.585.
De maneira irresponsável, a ministra Gleisi Hoffmann postou um vídeo, nas suas redes e nas do governo, promovendo o programa com a legenda: “Apertou o orçamento? O juro tá alto? Pega o empréstimo do Lula”.
E por que é irresponsável a postagem de Gleisi?
Porque ela de maneira propositada induz ao trabalhador o caminho do endividamento, além de fazer publicidade de um programa de governo usando sua função de ministra de estado e indiretamente publicizar uma ação que traz lucros apenas para dois setores: o populismo do governo federal e o sistema financeiro. A justiça deveria inclusive retirar das mídias sociais o vídeo dessa senhora. Porque ele é um vídeo mentiroso.
O governo quer, com esse empréstimo consignado, anunciar a panaceia de todos os males mas, conhecedores que somos dos métodos e processos econômicos do governante de plantão, já podemos prenunciar um enorme endividamento dos trabalhadores e MEIs.
Vivemos no país uma inflação por custos e gastos, e não por demanda. Hoje, temos a demanda reprimida porque as pessoas não têm dinheiro para gastar. Porém, como já aconteceu nos primeiros mandatos de Lula e Dilma, a oferta de crédito levou à compra desenfreada de eletrodomésticos, eletro-eletrônicos, e endividou famílias que ficaram com pendências impagáveis para frente, tendo que negociar com o sistema financeiro. O sistema financeiro é o maior beneficiado por essa medida.
Para sermos honestos na análise, por considerarmos os juros dessa modalidade de empréstimo abaixo dos praticados pelos agentes de crédito, ele só é compensador se aquele que o contrair tiver hoje dívida com juros superiores aos 1,6% oferecidos pelo consignado, e mesmo assim se for feita a portabilidade dessa dívida, e o dinheiro não for usado para outro fim. Se o trabalhador não tiver nenhuma dívida com juros elevados, não deve contrair esse empréstimo.
Esse empréstimo é mais uma maquiagem proposta por um governo que não consegue atacar uma questão central,a redução dos gastos com a máquina pública.
Propor limite de 35% da renda do trabalhador que pode ser comprometido com o empréstimo é desconsiderar uma realidade. Se tirarmos as despesas com transporte, alimentação, vestuário, saúde, a vida dos filhos, um trabalhador brasileiro em média não tem uma sobra superior a 40% do que ganha. Significa que ele irá comprometer o que sobra com o empréstimo consignado.
E ainda tem mais. Se o trabalhador for demitido, o saldo do fundo de garantia e a multa rescisória poderão ser usados para quitar o empréstimo. Isso prejudica até o planejamento financeiro. Demitido pela empresa, o trabalhador tem os acertos legais que lhe permitem um alívio na procura de outro emprego.
Com esse empréstimo, o trabalhador pede parte da flexibilidade do uso do fundo de garantia. Dinheiro que pode ser destinado, por exemplo, para a compra de um imóvel, para planejar sua aposentadoria.
A experiência já nos diz que medidas como essa elevam o endividamento das famílias brasileiras por não termos no rol das nossas preocupações a educação financeira.
Com esse empréstimo só lucram dois setores: o Governo Federal com o populismo da medida e os bancos, com a possibilidade de usar o dinheiro do trabalhador, comprometendo o Fundo de Garantia, comprometendo a multa rescisória, para poder emprestar dinheiro.
Entender o passado é imprescindível para vivermos o presente e planejarmos o futuro, e nesse caso as lições do passado são amargas e devem ser evitadas a todo custo.