Produtividade é a régua invisível que separa crescimento de verdade de crescimento de ilusão. Em informação que me foi enviada pelo economista Gustavo Andrade, colega de bancada do Meio Dia em Pauta da 98 News, há um lembrete incômodo. O Brasil ocupa apenas o 8º lugar em produtividade na América Latina, medido pelo PIB por hora trabalhada. Fica atrás não só de economias reconhecidas como Chile e Uruguai, mas até mesmo da República Dominicana.
Essa constatação não é apenas estatística, é estrutural. Porque produtividade não é sobre trabalhar mais, é sobre trabalhar melhor. O gráfico da OIT mostra que Panamá, Uruguai e Chile conseguem extrair mais valor de cada hora de trabalho. Enquanto isso, o Brasil continua preso em um círculo vicioso: jornadas extensas, salários comprimidos e baixo retorno econômico.
Educação: a base do problema
Discutir produtividade é, antes de tudo, discutir educação. E não apenas o acesso à escola, mas a qualidade e a formalização da formação. Não basta garantir matrícula, é preciso garantir aprendizado real. O trabalhador brasileiro muitas vezes não domina habilidades básicas, o que limita sua inserção em ocupações de maior valor agregado.
Além disso, a falta de políticas consistentes de profissionalização faz com que a transição da escola para o mercado de trabalho seja truncada. Cursos técnicos, formação continuada e atualização tecnológica deveriam ser parte de uma engrenagem permanente. Países que hoje lideram a lista entenderam isso há décadas.
Relações de trabalho e legislação engessada
Outro gargalo está nas relações trabalhistas. A legislação brasileira, marcada por rigidez e disputas entre patrões e empregados, ainda opera sob a lógica da desconfiança. O resultado é um mercado formal que desincentiva a contratação e um mercado informal que prolifera sem garantias.
Produtividade exige flexibilidade inteligente: leis que protejam, mas que também permitam adaptação ao dinamismo econômico. O excesso de entraves jurídicos e a judicialização constante das relações trabalhistas sufocam tanto empresas quanto trabalhadores.
Há ainda um fator central: a defasagem tecnológica. Enquanto outros países caminham para a digitalização e automação, o Brasil convive com empresas de baixa capitalização tecnológica, onde a gestão é baseada mais em improviso do que em planejamento.
Trabalhar mais horas não garante prosperidade. O diferencial está em trabalhar com melhores ferramentas, processos modernos e gestão eficiente. Países pequenos como o Panamá conseguiram dar saltos de produtividade justamente ao investir em setores estratégicos, integrando logística, serviços financeiros e tecnologia.
O que mudar?
Se quisermos deixar o fim da fila e nos aproximar dos líderes, três frentes precisam ser atacadas com urgência. Educação e profissionalização, investir pesado em qualidade, não só em quantidade; Reforma das relações de trabalho, com leis menos engessadas, que facilitem a formalização e diminuam a insegurança jurídica; Tecnologia e inovação, ampliar incentivos à modernização das empresas, especialmente às pequenas e médias.
Produtividade não é tema técnico reservado a economistas. É a questão central do desenvolvimento. É ela que define salários, qualidade de vida e capacidade de competir no mundo. Sem enfrentar esse nó, o Brasil seguirá condenado a crescer para logo depois descobrir que estava apenas correndo no mesmo lugar.
A pergunta que ecoa, portanto, é o que precisamos mudar para entrar no grupo dos que realmente crescem? A resposta está em coragem política, visão de longo prazo e na escolha de abandonar a ilusão do improviso.