Uma pesquisa divulgada nesta semana escancarou um efeito colateral importante da chamada “taxa das blusinhas”. A medida impactou com mais força justamente os consumidores de menor renda. O tributo que incide sobre compras internacionais de baixo valor, como as feitas em plataformas de e-commerce, elevou preços e reduziu o acesso de milhares de brasileiros a produtos básicos, muitas vezes inacessíveis no varejo nacional.
A ideia inicial do governo era proteger a indústria nacional e equilibrar a competição com o varejo estrangeiro, mas o que se vê na prática é outra realidade. Consumidores de menor renda, especialmente mulheres e jovens das periferias, viram suas opções de consumo reduzidas e seu orçamento mais apertado.
Para quem ganha pouco, a diferença de R$ 10 ou R$ 20 em uma peça de roupa ou calçado é significativa. Quando se perde acesso aos produtos mais baratos, perde-se também qualidade de vida. Mais uma vez, o problema não está no objetivo declarado da política, mas em sua implementação e nos seus efeitos práticos. O governo optou por uma medida generalista, sem diferenciar perfis de consumo, sem estudar impactos sociais e sem oferecer alternativa de transição.
E pior: fez isso em um momento de renda comprimida e de inflação de alimentos ainda elevada. Quando um país tenta proteger seu mercado interno por meio do fechamento comercial, o resultado imediato pode até parecer positivo para determinados setores produtivos. Mas, no médio e longo prazo, os efeitos mais evidentes são a queda da concorrência, o aumento dos preços e a estagnação da produtividade.
Menos concorrência significa menos pressão por inovação, eficiência e melhora da qualidade. E são justamente os consumidores mais pobres que pagam mais caro por isso, com menos acesso, menos escolha e mais custos.
É importante lembrar que países com economias abertas tendem a ter produtos mais baratos, mais opções de consumo e cadeias produtivas mais eficientes. Proteger a indústria é legítimo, mas isso deve ser feito com política industrial inteligente, investimento em capacitação, tecnologia e infraestrutura, e não com tarifa em cima da blusinha da dona Maria, que tenta economizar no fim do mês.
Em economia, não existe alquimia: quando se reduz concorrência e se aumentam artificialmente os preços com a justificativa de proteção, o impacto final será sempre o mesmo: menos acesso, mais custo e mais desigualdade. Fechar a economia é punir justamente quem mais precisa de alternativas.
Aqui, vemos alguma semelhança com o que Donald Trump faz na economia dos Estados Unidos? Pois é.