Durante os seus doze anos de pontificado, o papa Francisco reconheceu três mineiros como beatos. Com histórias distintas, os três se uniram na fé e na entrega pela Igreja Católica. Conheça, abaixo, as histórias de Isabel Cristina, padre Victor e Nhá Chica.
Na Igreja Católica, a beatificação é o reconhecimento de que aquela pessoa se encontra no céu e que pode interceder por aqueles que lhe recorrem em oração. Essa é uma etapa anterior à canonização, que é o reconhecimento formal de alguém como santo.
Isabel Cristina
Isabel Cristina Mrad tinha apenas 20 anos quando foi morta por “defender sua dignidade como mulher” e o “valor da castidade”, nas palavras de papa Francisco. Natural de Barbacena, no Campo das Vertentes, ela frequentou a igreja paroquial desde cedo e fez parte do Grupo de Jovens da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Ela sonhava em se tornar pediatra e, quando se mudou para Juiz de Fora para iniciar os estudos, foi morar com o irmão em uma casa comprada pela família. Na noite de 1º de setembro de 1982, o irmão voltou para casa e a encontrou assassinada, com sinais de tentativa de violência sexual.
Após o início do processo criminal, Maurílio Almeida Oliveira foi considerado culpado pelo assassinato. Segundo a investigação, ele foi à casa de Isabel para montar um guarda-roupa e tentou estuprá-la. Segundo a autópsia, ela resistiu à agressão. O réu foi condenado a 19 anos de prisão.
Em outubro de 2020, o Papa Francisco havia reconhecido seu martírio, mas a pandemia atrasou sua beatificação. Isabel Cristina foi proclamada beata no dia 10 de dezembro de 2022, em cerimônia realizada em Barbacena.
Padre Victor
Nascido na cidade da Campanha, no Sul de Minas Gerais, Francisco de Paula Victor, mais conhecido como padre Victor, foi o primeiro beato negro nascido livre no Brasil. Ele trabalhou como alfaiate, mas sempre sonhou em vivenciar o sacerdócio.
Padre Victor ingressou no seminário em 1849 e foi ordenado dois anos depois, permanecendo em Campanha. Em 1852, ele foi transferido para a cidade de Três Pontas, onde foi vigário e posteriormente pároco, vivenciando ali 53 anos de sacerdócio antes de morrer em 23 de setembro de 1905.
Nesse período, a gravidez de uma mulher considerada infértil foi um milagre atribuído à sua intercessão. Ele foi beatificado em 14 de novembro de 2015.
“Pobre no meio dos pobres, sempre em favor das periferias existenciais. Padre Victor fundou escolas, edificou hospitais e santificou pela coerência de vida. Não tinha vergonha de sua cor e edificou porque fez de sua pobreza material a riqueza do seu caráter e da sua santidade. Padre Victor entendeu a mentalidade agrícola e rural de seu tempo. Valorizou os trabalhadores rurais e os proprietários, pregando a harmonia e a justiça social”, disse o cardeal Raymundo Damasceno Assis.
Nhá Chica
Francisca de Paula Jesus, mais conhecida como Nhá Chica, nasceu em Santo Antônio do Rio das Mortes, no distrito de São João del-Rei, no Campo das Vertentes.
Aos oito anos de idade, ela se mudou com a mãe e o irmão para Baependi, cidade do interior de Minas Gerias. A mãe dela morreu logo depois de chegarem à cidade, quando Nhá Chica tinha dez anos. Com isso, ela e o irmão passaram a viver sozinhos.
Ela nunca se casou e passou a viver reclusa em sua casa, se dedicando à oração e a dar conselhos a quem lhe procurava. Nhá Chica ficou muito conhecida e a fama de santidade foi se espalhando devido aos conselhos que ela dava.
Nhá Chica afirmava que Nossa Senhora lhe indicava o que deveria dizer. Ela chamava Nossa Senhora com o apelido carinhoso de “Minha Sinhá”, que significa, “minha senhora”.
Segundo relatos, Nhá Chica atendia os conselheiros do Império que iam para a região por causa das Águas de Caxambu e não deixavam de passar por Baependi com o intuito de visitar a Beata e ouvir seus conselhos.
O irmão dela se casou, mas não deixou herdeiros. Quando ele morreu, em 1861, ele deixou toda a sua fortuna para irmã. Em 1865, Nhá Chica usou o dinheiro para construir uma Capela no terreno herdado ao lado de sua casa para Nossa Senhora da Conceição, da qual ela era devota fervorosa. O restante ela doou aos pobres.
No dia da abolição da escravatura, em 1888, mesmo vivendo reclusa, ela saiu de casa e foi comemorar junto com todo o povo da cidade. Ela morreu em 14 de junho de 1895, aos 85 anos.
A Capela que Nhá Chica tinha mandado construir em honra Nossa Senhora da Conceição foi demolida em 1940, mas um santuário foi erguido no mesmo local, onde estão também os restos mortais da beata.
O Vaticano reconheceu a cura de um grave problema cardíaco como milagre atribuído a Nhá Chica. A beatificação dela foi assinada pelo papa Bento XVI e a cerimônia ocorreu no primeiro ano do pontificado de Francisco.