No Visão Macro de hoje, vamos falar mais um pouco sobre outro dos agregados macroeconômicos mais importantes: a tão temida inflação. Mas não vamos discutir se, no Brasil, a inflação está alta ou baixa. Vamos olhar, conceitualmente, como ela de fato funciona.
Primeiro ponto: a inflação é um processo de taxa de variação, e não de nível de preços em si. Isso é fundamental.
Por exemplo, algo pode ter subido de R$ 50 para R$ 100. Isso significa que a taxa de inflação — ou a variação daquele bem — foi de 100%. Mas, se no próximo período de medição o preço continuar em R$ 100, a inflação será zero, ainda que o nível de preços continue alto.
Também é essencial diferenciar dois tipos de inflação: a inflação de demanda e a inflação de oferta.
- Inflação de demanda: é aquela sobre a qual a política monetária consegue atuar, desacelerando a economia e ajustando o nível de preços às expectativas ao longo do tempo.
- Inflação de oferta: está muito mais relacionada a disrupções nas cadeias produtivas, sobre as quais a política monetária tem efeito muito limitado.
Por isso, entender essa distinção é crucial.
Um terceiro ponto relevante envolve expectativas e inércia inflacionária. Lembrem que, como aprendemos na escola, o que está em movimento tende a permanecer em movimento.
- Se a inflação está baixa, as expectativas podem mantê-la baixa.
- Se a inflação está alta, ela tende a se retroalimentar, permanecendo elevada.
No Brasil, isso é potencializado por dois fatores:
- Memória inflacionária, ou seja, nosso histórico de alta inflação.
- Economia altamente indexada, na qual grande parte dos contratos é reajustada por índices de preços.
Ou seja, a inflação não é apenas sobre preços altos, mas sobre a velocidade com que eles variam ao longo do tempo.