Na boa, você está perdido, você está desnorteado, você precisa se orientar. Espera, espera, espera, espera… Se eu estou desnorteado, então eu tenho que ir para o norte, certo? Mas para me orientar, eu teria que ir para o oriente, ou seja, para o leste. Afinal, você quer que eu vá para onde?
Pois é… nortear, orientar. Essa confusão linguística reflete a hegemonia econômica, cultural e científica ao longo dos séculos. A gente se acostumou a ver o mundo assim: o norte para cima, o sul embaixo. Mas essa configuração do mapa-múndi é bem recente. Surgiu a partir do século XV, com a popularização da bússola magnética nas expedições marítimas.
E como o ponteiro da bússola sempre aponta para o norte, esse ponto cardeal se tornou a referência dominante. Mas nem sempre foi assim.
No Egito Antigo, os mapas se orientavam pela nascente do Rio Nilo e, portanto, tinham no topo o sul e, embaixo, o norte. Isso por anos gerou confusão quando se falava em Baixo Egito e Alto Egito, porque nos mapas antigos o Alto Egito ficava ao norte, ou seja, na parte inferior do mapa. “Alto” e “baixo”, nesse caso, eram referências topográficas de relevo, e não geográficas.
Séculos depois, mais precisamente no século VIII, um clérigo espanhol, Isidoro, bispo de Sevilha, propôs e popularizou um mapa circular cortado por canais que representavam o mar Mediterrâneo. O círculo formava um O e os canais formavam a letra T. São os chamados mapas TO – Terrarum Orbis.
O curioso é que, nesse mapa, no topo estava a Ásia, ou seja, o Oriente.
Moral da história: a língua reflete a visão de mundo de quem está no poder. Portanto, para quem está desorientado ou desnorteado, qualquer direção pode ser boa. Só não pode é parar.