Hoje vamos falar sobre o transporte que temos — e também sobre aquele que precisamos construir. Porque transporte não é só deslocamento: é por meio da mobilidade urbana que a gente chega ao trabalho, à escola, ao posto de saúde e acessa as opções de lazer.
E envolve também o transporte de cargas e mercadorias, ou seja, é o elo entre a cidade e a nossa vida cotidiana. Mas esse elo, na maior parte das cidades brasileiras, está ficando cada vez mais longo, oneroso, pesado — e consumindo uma parte importante da nossa jornada diária de trabalho.
Segundo a Pesquisa CNT de Mobilidade Urbana, realizada em 2024, nas 319 cidades com mais de 100 mil habitantes, quem vai trabalhar percorre em média 13,5 km. Para estudar, são praticamente 11 km. E para buscar atendimento em saúde, 9 km em média.
Esses números mostram o que muita gente já sabe e sente: as cidades estão se espalhando, e as pessoas moram cada vez mais longe das oportunidades. Isso significa mais tempo no trânsito, mais cansaço e, naturalmente, menos qualidade de vida.
Mas o que a gente vê na prática?
Muita gente partindo para o transporte individual — carro e moto. Mais da metade da população entrevistada já tem carro próprio, e mais de 20% conta com uma moto. Ou seja: o transporte coletivo, que deveria ser a espinha dorsal da mobilidade urbana, hoje representa menos de 32% de todas as viagens realizadas.
Enquanto um ônibus pode transportar em média 70 passageiros, um carro leva, em geral, apenas duas pessoas. Então, não são as ruas que estão apertadas e insuficientes. É a forma de locomoção que precisa ser repensada.
E por que tanta gente deixou de usar o ônibus?
Porque ele deixou de atender bem. Os principais motivos citados na pesquisa foram: falta de conforto, falta de flexibilidade, tempo excessivo de viagem e tarifa elevada. Quase 57% das pessoas disseram que deixaram de usar o ônibus ou reduziram seu uso nos últimos anos.
Mas tem um dado que chama a atenção: 63,5% dos entrevistados afirmam que poderiam voltar a usar o transporte coletivo se esses problemas fossem resolvidos. Ou seja, a população não é contra o ônibus, mas está contra um sistema que não atende bem e que tem uma série de falhas.
E até quem usa carro enfrenta dificuldades: preços dos combustíveis, engarrafamentos, falta de vagas e estacionamentos cada vez mais caros.
O que isso tudo revela?
Que as cidades precisam ser repensadas. Moradia, trabalho, educação e saúde precisam estar mais próximos. E o transporte coletivo precisa voltar a ser prioridade — com mais conforto, frequência, integração física, modal e tarifária. E, claro, com uma tarifa justa.
No fim das contas, mobilidade é muito mais do que ir e vir. É sobre desenvolvimento, dignidade e qualidade de vida.
É isso aí. Até semana que vem — porque a cidade que se move é a cidade que melhora.