Eu vi, sim, Papai Noel. Não era dezembro, não tinha neve, não tinha renas. Era setembro, sol rachando o asfalto da Savassi, e lá vinha ele, gordo, vermelho, suando mais que tampa de marmita.
As pessoas olhavam e se perguntavam: “Já é Natal? Ou é promoção de loja em liquidação?” Mas o bom velhinho não trazia presentes, trazia cartões de crédito estourados, inflação embrulhada em papel de presente e um saco cheio de boletos vencidos.
Setembro é mês de primavera, mas na Savassi florescia só o caos urbano: buzina, engarrafamento, camelôs, ambulantes.
No meio disso tudo, um Papai Noel fora de época, lembrando que o Brasil vive sempre num calendário paralelo, onde as datas são conveniências e a lógica é um enfeite que nunca acende.
Papai Noel em setembro é o retrato do país: a pressa de vender o futuro antes de pagar o passado. A gente nem respirou a Independência e já empurram Natal pela goela.
Eu vi, eu vi. E talvez amanhã ele apareça de novo, vendendo esperança parcelada em doze vezes sem juros.
*Com colaboração de André Sodré