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Jair Bolsonaro
(Lula Marques/Agência Brasil).

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O Ministério da Fazenda anunciou que R$ 76,5 bilhões em despesas de 2026 seriam uma herança do governo Bolsonaro. Há, de fato, uma discussão jurídica sobre o que pode ser considerado despesa herdada, mas o ponto central é outro: não parece coerente colocar toda a culpa no governo anterior. A gestão fiscal é contínua e quem governa hoje tem responsabilidade pelo presente.

Quando olhamos para os números, fica claro como essa justificativa soa desproporcional. Os R$ 76,5 bilhões equivalem a aproximadamente 3% do orçamento federal de 2026, ou seja, em termos relativos, é pouco diante do volume total de gastos. Comparado ao PIB brasileiro, de mais de R$ 13 trilhões, esse valor é praticamente irrelevante. Vale observar também a trajetória das receitas. Desde 2023, a arrecadação federal cresceu de forma consistente.

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Só entre 2023 e 2025, a arrecadação acumulou um aumento real de cerca de R$ 230 bilhões, puxada pela retomada da atividade econômica e pelo controle maior da inflação. O problema, portanto, não está na receita, que tem aumentado, mas sim nas despesas. A despesa primária do governo federal, que exclui juros, cresceu mais de R$ 250 bilhões desde 2023, ampliando compromissos permanentes e reduzindo a margem de manobra fiscal.

Além disso, uma parcela significativa do crescimento do orçamento tem se concentrado em gastos fora do limite do arcabouço fiscal, com exceções criadas para determinados programas e políticas públicas. Esse quadro deixa claro que o desequilíbrio atual não pode ser explicado apenas por um suposto passivo herdado. É como se uma pessoa com obesidade avançada resolvesse culpar apenas a última fatia de bolo pelo excesso de peso. O problema não é aquele pedaço isolado, mas sim a rotina de escolhas acumuladas ao longo do tempo.

Da mesma forma, a crise fiscal brasileira é resultado de sucessivos aumentos de gasto sem a devida contrapartida em eficiência ou retorno à sociedade. Em economia, não existe alquimia. Culpar governos anteriores pode até render discurso político, mas não resolve o desafio de manter as contas públicas equilibradas. O que garante sustentabilidade é disciplina no gasto, foco em prioridades e responsabilidade nas escolhas do presente.

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Izak Carlos

É economista-chefe do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Formado em economia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com MBA em Gestão Financeira pela Fundação Getúlio Vargas, mestrado e doutorado em economia aplicada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), já atuou como economista, especialista e consultor econômico da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Izak também é sócio-diretor da Axion Macrofinance e Especialista do Instituto Millenium.

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