Desvalorização profissional, salários baixos, indisciplina, desinteresse dos alunos, excesso de trabalho e até mesmo violência em sala de aula. São problemas que, a cada dia, se tornam mais comuns na rotina de professores das redes pública e privada em todo o país. Mesmo diante desse cenário desafiador, há um sentimento em comum: a paixão por ensinar. É esse sentimento que motiva a professora e psicóloga Monique Saliba a retornar à escola após enfrentar um aneurisma cerebral.
Com 25 anos de carreira, ela leciona na Emei Padre Tarcísio, na região da Serra, em Belo Horizonte. Para Monique, o adoecimento foi silencioso. “O aneurisma veio não só por estresse, mas também pela pressão alta. Eu já tomava medicação, mas não foi suficiente para aguentar a pressão. O adoecimento é algo que tem que ser muito bem visto, porque ele é silencioso muitas vezes. Você não percebe que está estressada, esgotada”, relatou.
A experiência transformou sua forma de ver a inclusão e a atuação na sala de aula. “Hoje, acredito que vou fazer a diferença como uma profissional que passou por isso. Consigo olhar para uma criança com estímulos sensoriais diferentes e entender o que ela está sentindo. Vou acolher de outra forma e buscar estratégias para que ela também se sinta incluída de forma plena”, afirmou emocionada.
Dados da pesquisa internacional TALIS, sobre ensino e aprendizagem, apontam que 16% dos professores brasileiros afirmam que a profissão afeta diretamente sua saúde mental — índice acima da média dos países da OCDE. O levantamento também indica que os professores no Brasil perdem, em média, 21% do tempo de aula apenas para manter a ordem em sala, contra 15% nos demais países avaliados.
Para a psicóloga clínica e palestrante Isabela Coura, parte desse cenário está relacionado à ausência de limites e à sobrecarga de funções atribuídas à escola. “Existe uma dificuldade muito grande hoje dos pais na imposição de limites. Muitos terceirizam a educação para a escola, e isso recai sobre o professor, que passa a lidar com a gestão do ensino, escuta, conflitos e mediação emocional. Isso torna o ambiente escolar ainda mais desafiador para quem ensina”, explicou.
A professora Lílian Moreira, que atua há 27 anos em escolas da Grande BH, especialmente em Ribeirão das Neves, também percebe essa mudança no papel do professor. “A gente virou babá de crianças e adolescentes. É como se a família dissesse: ‘Toma conta’. A gente está chegando num ponto em que cuidar substitui o ensinar”, desabafou.
Apesar das dificuldades, pequenos gestos ainda fazem a diferença. Monique lembra de um momento marcante em seu retorno à escola. “Logo quando voltei, uma criança me abraçou e disse: ‘Que bom que você voltou. Eu senti muito a sua falta’. Aquilo foi como um anjo. Um abraço, uma palavra, um sorriso… pode parecer pouco, mas quando você está em um turbilhão emocional, esses gestos são âncoras que te resgatam”, concluiu.
O dia dos professores é celebrado nesta quarta-feira, dia 15 de outubro.
*João Bedran com supervisão de Caio Tárcia