Entre planos de aula, avaliações, reuniões e turmas cada vez mais exigentes, o tempo parece nunca ser suficiente. O acúmulo de tarefas e a crescente sobrecarga emocional têm levado muitos professores ao limite. A rotina vai muito além do quadro e do giz — e, para muitos, o estresse se tornou um companheiro constante.
O professor Marcus Andrade conhece bem essa realidade. Antes de atuar como docente de Geografia na Grande BH, foi policial militar. A transição de carreira, no entanto, não o poupou da pressão. “O professor precisa ser tudo ao mesmo tempo: educador, psicólogo, gestor de conflitos. A gente carrega um peso que muitas vezes não é visto. Tem dia que você sai da escola com a cabeça estourando, e ainda leva trabalho para casa, sem tempo para respirar”, relata.
De acordo com a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS) 2024, divulgada pela OCDE, 44% dos professores brasileiros dizem ser frequentemente interrompidos por alunos em sala de aula — mais do que o dobro da média internacional, que é de 18%. O levantamento também revela que 21% dos professores no Brasil consideram o trabalho altamente estressante, número que supera a média de 19% dos países avaliados e que cresceu sete pontos percentuais desde 2018.

Para a psicóloga clínica Isabela Coura, o impacto da rotina docente vai além do cansaço físico. “É um ambiente de muita cobrança, em que o professor precisa entregar resultados em condições muitas vezes precárias. A falta de suporte institucional, combinada com a pressão social, contribui para o adoecimento mental. É urgente que se criem políticas de acolhimento e cuidado com esses profissionais”, afirma.
Mesmo diante de tantos desafios, há quem siga firme, movido pelo compromisso com os alunos. Para Marcus, a vocação é o que sustenta a permanência em sala de aula. “Estar na escola é um ato de resistência. É acreditar, todo dia, que a educação transforma. Por mais cansado que eu esteja, quando um aluno aprende algo comigo, aquilo renova meu propósito. É isso que me faz continuar.”
A série especial “O Peso Invisível de Ensinar” segue trazendo relatos sobre a realidade dos profissionais da educação — e reforça que cuidar da saúde mental dos professores é fundamental para garantir um futuro melhor para todos. Afinal, quem ensina também precisa ser cuidado.
*João Bedran com supervisão de Caio Tárcia