Depois da PF prender o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, o presidente da CPMI do INSS, Carlos Viana, afirmou em coletiva que mais parlamentares estão envolvidos no esquema. Ele disse que outros deverão prestar esclarecimentos. Viana também comentou a estrutura do esquema que desviou bilhões de aposentados e pensionistas.
‘Os operadores foram presos, agora queremos saber quem indicou e quem foi beneficiado‘
Em fala dura, Carlos Viana disse que a operação desta quinta-feira atingiu o coração da quadrilha.
“Hoje a operação colocou na cadeia o núcleo principal de todos os desvios do INSS, da quadrilha que tomou de assalto as aposentadorias brasileiras. Aqueles que estiveram na CPMI debaixo de habeas corpus, que garantiram a eles silêncio em vários momentos, agora terão de revelar a verdade ainda mais presos.”
O senador também rebateu críticas de que a CPMI seria “simbólica” ou ineficaz.
“Minha indignação em dizer quando as pessoas desde o início falavam que CPMI não daria em nada, que era apenas um momento teatral. Senhores, não há na história uma comissão que tenha prendido mais pessoas e que esteja dando mais respostas.”
Viana descreve três escalões da fraude
O presidente da CPMI afirmou que o esquema funcionava em três níveis, e que a investigação agora mira o topo da pirâmide:
Terceiro escalão: operadores e laranjas que sacaram e sumiram com o dinheiro.
Segundo escalão: servidores concursados que se corromperam e mantiveram o esquema “de governo em governo”.
Primeiro escalão: políticos que, segundo Viana, podem ter indicado e protegido esses servidores.
“Esse primeiro escalão, a partir de agora, também começa a ser alvo das operações e possivelmente dos depoimentos que serão dados ao Supremo Tribunal Federal.”
Viana reforçou: “Ainda há muito trabalho a ser feito. Tem muita sujeira para a gente limpar, sujeira que era para ter sido colocada debaixo do tapete e que nós não aceitamos.”
‘Os dois parlamentares não são os únicos‘
Ao comentar a situação dos deputados Euclydes Pettersen (MG) e Edson Araújo (MA), Viana afirmou que o número de políticos envolvidos é maior.
“Os dois parlamentares não são os únicos. Há outros parlamentares que também têm envolvimento e que prestarão seus depoimentos no momento certo, de acordo com a sua responsabilidade ao Supremo Tribunal Federal.”
E reforçou a postura da comissão: “Aqui não estamos para enganar ou evitar que qualquer pessoa tenha que dar explicações.”
Dinheiro desaparecido e monitoramento da PF
O senador confirmou que muitos dos suspeitos presos já estavam sendo acompanhados pela Polícia Federal.
“Boa parte dessas operações foi baseada em conversas, em tentativas de destruir provas. O dinheiro sacado nos bancos, em espécie, está guardado em algum lugar. Uma parte foi para o exterior, outra simplesmente desapareceu no Brasil. Esse dinheiro está guardado, virou propriedade ou está em locais monitorados.”
Segundo Viana, novas delações podem surgir: “Há outras pessoas dispostas a fazer delação. Mas primeiro nós vamos formar todo o arcabouço das provas.”
Depoimento de Eric Fidelis deve destravar nova etapa da investigação
A CPMI ouve nesta quinta-feira (13/11) o advogado Eric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios do INSS André Fidelis. Segundo a Agência Senado, o escritório do advogado recebeu R$ 5,1 milhões de intermediários ligados ao esquema e movimentou R$ 10,4 milhões entre 2023 e 2024.
A comissão quer detalhes sobre:
- a relação dele com o operador conhecido como “Careca do INSS”
- o envolvimento do pai
- o papel das associações usadas para promover descontos indevidos em aposentadorias
