Os Estados Unidos parecem finalmente ter percebido o erro estratégico que cometeram ao elevar tarifas e criar barreiras a uma série de parceiros comerciais. Agora, diante dos efeitos econômicos concretos — inflação mais alta, perda de competitividade e queda de renda — o governo americano inicia um movimento de aproximação, buscando novos acordos para tentar reduzir os danos de uma política comercial que nasceu equivocada.
Nós avisamos que isso aconteceria, e aconteceu exatamente como previsto. A reunião do chanceler Mauro Vieira com o senador Marco Rubio deixou isso evidente. Rubio reconheceu que as tarifas impostas pelo governo americano foram um erro, ainda que seja um reconhecimento tácito, e que o objetivo agora é reconstruir as pontes. O anúncio de um acordo comercial com a Argentina, incluindo a abertura para carne bovina, vai no mesmo sentido.
Os Estados Unidos estão procurando parceiros para aliviar o impacto econômico criado por eles mesmos. A verdade é que a realidade econômica é sempre soberana. Tarifa imposta é imposto e aumenta preço. Com preços mais altos, a inflação sobe, o poder de compra cai e a insatisfação popular aumenta.
Nos Estados Unidos, isso ficou tão claro que o presidente chegou a anunciar rifas e distribuição de dinheiro arrecadado pelas tarifas, numa tentativa quase desesperada de recuperar apoio político, uma medida tão inusitada quanto equivocada. Só que há um problema estrutural: tarifa não é receita permanente. É uma arrecadação volátil, instável e diretamente ligada ao comércio, que portanto depende da dinâmica econômica.
Criar um benefício público baseado em uma fonte de receita que não se sustenta ao longo do tempo é construir uma política pública sobre areia movediça. E agora os Estados Unidos se encontram exatamente nessa armadilha. Em economia, não existe alquimia. Se um país cria barreiras, ele paga por elas, seja com preços mais altos, menor produtividade ou perda de competitividade. Da mesma forma, não existe benefício duradouro financiado por receitas que não são duradouras.
O resultado é previsível: um equilíbrio pior agora do que antes da imposição das tarifas. Agora temos preços maiores e mais gastos para manter a popularidade. O movimento de reaproximação dos Estados Unidos é um reconhecimento de que o protecionismo moderno, travestido de estratégia política, tem custo alto e impacto rápido. A lição, para eles e para nós, é simples: economia responde a incentivos, não a vontades políticas.
