No Visão Macro de hoje, vamos falar um pouco sobre a temporada de resultados das companhias abertas em bolsa no Brasil, que tem, por um lado, demonstrado bastante solidez específica do processo operacional, com boa alocação de capital pelo seu management ao longo do tempo e alavancagem controlada, mesmo a despeito de todo o processo ruidoso da taxa de juros no nível onde está e das idiossincrasias locais péssimas na frente fiscal e, obviamente, nas perspectivas políticas para o ano que vem, principalmente em termos de volatilidade.
No final das contas, os papéis — o preço dos papéis — necessariamente refletem tanto a capacidade de aumento de lucros quanto o processo de trazer a valor presente um fluxo de caixa descontado. É óbvio que, quanto menor for essa taxa de desconto, maior deveria ser o valor presente hoje.
Isso é importante porque estamos discutindo novamente uma parcela macroeconômica muito relevante, que é o processo de convergência — ainda não convergente, mas mais convergente — do processo inflacionário, que deve permitir que o Banco Central comece a cortar os juros a partir do ano que vem. Se vai ser em janeiro ou se vai ser em março? Não sabemos. Isso talvez importe menos. O que importa é que o ciclo deve iniciar.
E quando esse ciclo inicia, o fluxo de caixa descontado, trazido ao valor presente por essa taxa, que seria muito mais alta hoje e menor amanhã, deveria também ancorar uma possível melhoria dos processos de preços em ativos de risco, como é o caso das ações listadas em bolsa. Esse é, obviamente, um caso importante.
Mas também temos que olhar por que esse juro importa tanto não só para o fluxo de caixa descontado, mas porque, dada a qualidade das operações das empresas, a partir do momento em que a despesa financeira — o serviço da dívida, principalmente atrelado ao CDI — comece a cair, necessariamente pode levar a resultados melhores na última linha, ou seja, nos lucros. Isso deveria ancorar a possibilidade de alta no longo prazo.
Muito embora entremos num ciclo claro de disputa eleitoral muito antes do que deveríamos, ele vai continuar de maneira muito complicada a partir do ano que vem, principalmente a partir da definição dos candidatos e das propostas, mas também do medo de que exista a probabilidade da continuidade do Executivo atual, que de fiscalista absolutamente nada tem — pelo contrário, talvez até Papai Noel seja mais perceptível e real.
