O município de Barbacena enfrenta um dos maiores déficits previdenciários de Minas Gerais. Segundo o prefeito Carlos Du (PSD), a situação se arrasta desde os anos 1990 e consome parte significativa do orçamento anual. Em entrevista na 98 News, nesta quinta-feira (12/6), ele também alertou para o risco de paralisação no serviço do Samu e defendeu mais organização entre prefeitos para impulsionar o turismo regional e atrair investimentos.
“Virou uma bola de neve gigantesca”
“O maior problema que nós enfrentamos hoje é a previdência. Barbacena tem uma das piores previdências próprias do Brasil. Temos um déficit atuarial de R$ 1,3 bilhão, com um orçamento de R$ 712 milhões. Dá para entender o rombo gigantesco”, afirmou o prefeito.
Carlos Du explicou que o fundo foi comprometido ainda na década de 1990, quando recursos aplicados foram retirados para pagamento de salários atrasados, com aval da Câmara Municipal. “De lá pra cá, virou uma bola de neve. Hoje consome R$ 76 milhões por ano só de aporte complementar para fechar a folha.”
Entre as medidas planejadas, o prefeito pretende vincular receitas de serviços e concessões ao fundo previdenciário, além de transferir imóveis do município para capitalizá-lo. “Estamos fazendo o levantamento de todas as áreas do Estado e da União sem uso no município para repassar ao fundo. Também vamos passar parte dos imóveis do município.”
“Nunca houve diálogo da União ou do Estado”
Carlos Du criticou a falta de articulação entre os entes federativos. “Nunca ouvi nem Estado nem União dialogarem com os municípios sobre o problema da previdência. Nós somos o ente menor, o primo pobre do processo”, disse. Ele também defendeu que a população e os servidores estejam atentos à criação de mecanismos que impeçam futuros gestores de desviar recursos do fundo. “Se vai criar um regime de previdência, fique atento aos cadeados que o prefeito vai criar na lei.”
Risco de colapso no Samu
Outro ponto de atenção é o Samu. Segundo Carlos Du, que representa um dos 10 consórcios mineiros do serviço, o déficit estimado para 2024 é de R$ 54 milhões. “Não existe outra fonte de receita a não ser Estado, União e municípios. Em nenhum dos consórcios a União chega a 43%. Em alguns, ela repassa 0%.”
Ele alertou para a desvalorização dos condutores socorristas e médicos plantonistas. “O condutor recebe de R$ 1.500 a R$ 1.800. Ele é o primeiro a chegar na cena, muitas vezes também atua como técnico de enfermagem e motorista. Não temos perspectiva de aumento porque o dinheiro não chega. Abrimos processo seletivo em Barbacena e ninguém apareceu.”
“Com pires na mão”
A bancada mineira no Congresso e a Assembleia Legislativa de Minas foram acionadas, e o ministro da Saúde, segundo o prefeito, se comprometeu a estudar o impacto de um reajuste emergencial. “Vamos bater na porta com pires na mão. Me dói o coração usar essa expressão, porque estamos na ponta, onde a vida acontece, e temos que pedir ajuda para fazer o mínimo.”
Turismo como vetor de desenvolvimento
Apesar dos desafios, o prefeito aposta no turismo e no setor de serviços para impulsionar a economia local. Em reunião recente com o ministro do Turismo, Celso Sabino, defendeu apoio ao projeto Sonho de Natal de Barbacena, que no ano passado recebeu cerca de 300 mil visitantes. “Foi sinalizado um aporte para o evento, que o ministro classificou como o maior evento natalino de Minas.”
A prefeitura pretende ampliar o alcance da programação com foco regional. “Vamos trabalhar o Sonho de Natal regional. O turista vai para Barbacena, mas também para as cidades do entorno, com pequenas ações voltadas para o Natal.”
Aposta na agroindústria
O município também busca ampliar a presença de empresas ligadas ao agronegócio. “Estamos trabalhando com projetos pioneiros para o fomento da agroindústria. Temos empresas como a Riviera, uma das maiores da América Latina em abate de aves, e já conseguimos atrair novas empresas com trabalho de bastidor.”
O setor de serviços, segundo ele, segue como principal vocação de Barbacena. “Por ser cidade polo, precisamos aproveitar a população flutuante. Estamos com saldo positivo de quase 5 mil novos CNPJs desde o início da gestão.”