O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (6/8) uma tarifa adicional de 25% sobre produtos da Índia, como punição pelas compras de petróleo da Rússia. A medida acende um alerta para o Brasil, que também tem ampliado as importações de diesel russo nos últimos anos.
Para o colunista da 98 News e especialista em economia, Gustavo Andrade, a sinalização é clara e deve ser levada a sério pelo governo brasileiro.
“De uma maneira ou de outra, é um sinal para o Brasil, dado que a gente tem aumentado muito a importação que a gente tem de diesel via Rússia. E isso é um ponto mais relevante ainda quando a gente coloca no contexto de que a gente é um país muito dependente da própria malha rodoviária.”
Segundo Gustavo, embora o Brasil hoje seja exportador líquido de petróleo, ainda depende da importação de combustíveis refinados, especialmente diesel e gasolina.
“Embora a gente tenha transformado o nosso padrão de comércio como exportador líquido de petróleo nos últimos 10 anos, a gente ainda é um importador líquido de diesel e de gasolina, no final das contas, dada a nossa baixa capacidade de refino.”
Alerta também para o agro?
O economista lembra que outro insumo estratégico para o Brasil também vem da Rússia: a amônia usada na produção de fertilizantes.
“Da Rússia vem uma outra coisa que talvez seja tão relevante quanto, que é a amônia — principalmente para a gente poder colocar nos fertilizantes e tocar o agro para frente. Sem a produtividade do agro, que depende de inovações tecnológicas, novos formatos de aplicação, uso de solo… e o fertilizante entra nisso sem dúvida nenhuma.”
Apesar disso, ele acredita que a atual preocupação dos EUA está concentrada nos combustíveis. “A tonalidade da comunicação ficou muito clara que a preocupação é muito mais em relação à importação de combustível do que da questão da amônia e do fertilizante. Isso deveria separar, pelo menos, as problemáticas que a gente tem em relação a ambos os produtos que a gente importa da Rússia.”
Risco de sanção e falta de diálogo
Outro ponto que preocupa, segundo Gustavo Andrade, é a falta de diálogo diplomático com os Estados Unidos.
“Não é uma sinalização positiva, principalmente dada a continuidade de falta de diálogo que a gente tem entre diplomacia brasileira e diplomacia americana. Lembrando: a gente nem tem diplomata dos Estados Unidos aqui oficialmente.”
“Essa linha de comunicação tem ficado muito falha, obviamente com disparates razoáveis de tonalidade política e não econômica vindo de ambos os lados. Isso é um ponto também razoavelmente preocupante.”
Gustavo alerta que, sem esse diálogo, o Brasil pode acabar entrando no radar das sanções norte-americanas.
“Tem que olhar um pouco para frente e tentar sempre abrir esse canal de comunicação, principalmente agora, para evitar uma possível potencialização da sanção.”