O envelhecimento da população brasileira entra no foco de uma pesquisa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que demonstra: quanto maior a escolaridade, menor a chance de uma pessoa idosa conviver com múltiplas doenças crônicas. O estudo, conduzido pelo doutorando Janderson da Silva, revela que a educação funciona como um importante fator de proteção para a autonomia, a saúde e a qualidade de vida na velhice.
A investigação comparou dados do Brasil e da Inglaterra, utilizando informações do Elsa-Brasil e do English Longitudinal Study of Ageing. Janderson explica que os dois países enfrentam desafios diferentes para promover o envelhecimento ativo. Segundo ele, no Reino Unido, hábitos como sedentarismo e tabagismo são os principais obstáculos, enquanto no Brasil o maior problema é a desigualdade social, especialmente a baixa escolaridade.
Números
O estudo mostra que a elevada taxa de multimorbidade no país — que atinge 70,4% das mulheres e 51,1% dos homens acima dos 50 anos — compromete a chamada capacidade intrínseca, essencial para manter autonomia física e mental. O pesquisador aponta que o Brasil enfrenta um processo de envelhecimento muito mais acelerado que o europeu.
“No Brasil está acontecendo o mesmo processo de envelhecimento em apenas 20 anos”, afirma. Ele acrescenta que essa mudança ocorre “acompanhada de todas as problemáticas que ainda permanecem, como a iniquidade em saúde e a desigualdade social”.
Entre os brasileiros avaliados, 70,6% tinham baixa escolaridade, condição diretamente associada à menor renda e pior acesso a serviços e oportunidades. Para o pesquisador, isso explica por que idosos com mais anos de estudo apresentam melhores condições para envelhecer de forma saudável. Ele afirma que a educação amplia o acesso a informações, serviços e hábitos saudáveis, funcionando como proteção social.
Propósito faz bem
O estudo também aborda o impacto do sentimento de utilidade na terceira idade. No Brasil, a aposentadoria, muitas vezes acompanhada da interrupção de atividades cotidianas, pode gerar sensação de inutilidade. Janderson cita o exemplo da Inglaterra, onde o voluntariado é uma estratégia cultural consolidada para manter idosos ativos e conectados à sociedade. Para ele, esses fenômenos têm raízes profundas.
“Os conceitos que embasaram essa formação e que hoje refletem nessas questões do envelhecimento e da multimorbidade são aqueles que vão impactar a saúde das pessoas idosas, no futuro, e dos jovens, no presente”, diz.
Para o pesquisador, as desigualdades que moldam o envelhecimento brasileiro são resultado de uma estrutura histórica que influencia as condições de vida e saúde das gerações atuais e futuras. Ele reforça, porém, que o país possui políticas de referência, como a Atenção Primária à Saúde e o Bolsa Família, que inspiram até sistemas estrangeiros.
Janderson lembra que o Reino Unido passa por uma reforma do sistema público de saúde e está adotando elementos do modelo brasileiro, incluindo a incorporação de agentes comunitários. “Assim, é necessário empenho e atenção a políticas públicas voltadas a determinantes sociais, em específico à educação”, conclui.
Com UFMG
