A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) concede, nesta terça-feira (16/12), às 16h, o título de Doutor Honoris Causa ao cantor e compositor Milton Nascimento. A cerimônia será realizada no auditório da Fiocruz Minas, em Belo Horizonte, e o artista será representado pelo maestro Wilson Lopes.
A homenagem foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Deliberativo da instituição. O reconhecimento destaca a importância da obra de Milton como ferramenta de resistência, crítica social e afirmação de identidades ao longo de mais de seis décadas de trajetória artística.
Para o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, o legado de “Bituca” dialoga diretamente com a missão da instituição. Segundo ele, desde o início da carreira, o artista utilizou a música como instrumento de conscientização, transformação social e defesa da democracia.
Referência
A celebração ganha significado especial por ocorrer em Minas Gerais, estado que marcou a formação do músico. Foi ali que nasceu o Clube da Esquina, movimento que projetou Milton Nascimento no Brasil e no exterior, consolidando-o como um dos maiores nomes da MPB.
Durante a ditadura militar, o cantor enfrentou a censura com criatividade e força poética. As canções de “Bituca” recorreram a metáforas, experimentalismos sonoros e espiritualidade para denunciar injustiças e inspirar movimentos sociais e gerações de artistas.
Obras como “Milagre dos Peixes”, “Maria, Maria” e “Coração de Estudante” tornaram-se símbolos de luta e resistência democrática. As canções dialogam com temas como direitos humanos, valorização das mulheres e combate às desigualdades sociais.
Outro aspecto marcante da trajetória de Milton é a relação com os povos indígenas. Desde os anos 1970, o artista construiu laços com diferentes etnias, experiência que resultou no projeto Txai, lançado em 1991 após convivência com povos da floresta no Acre.
O compromisso com os povos originários se fortaleceu ao longo das décadas. Em 2010, Milton Nascimento foi batizado pelos Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, reafirmando a defesa do músico pelos territórios, culturas e sobrevivência dos povos indígenas.
Legado
Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de outubro de 1942. Órfão de mãe ainda bebê, viveu em Juiz de Fora (MG) e, depois, em Três Pontas, onde cresceu com os pais adotivos, Lília e Josino Campos, que estimularam desde cedo sua formação musical. Aos 13 anos ganhou o primeiro violão e, aos 15, formou, ao lado do amigo Wagner Tiso, o grupo vocal Som Imaginário, seguido pelo conjunto W’s Boys, que se apresentava em bailes da região.
No início da década de 1960, mudou-se para Belo Horizonte, onde integrou o movimento que daria origem ao histórico Clube da Esquina, ao lado de Lô Borges, Beto Guedes, Márcio Borges e Fernando Brant, formação que revolucionou a sonoridade da música brasileira e projetou Minas Gerais para o cenário internacional.
Em 1967, Milton alcançou notoriedade nacional ao classificar três músicas no Festival Internacional da Canção da TV Globo, incluindo “Travessia”, que conquistou o segundo lugar e marcou definitivamente sua carreira. A projeção internacional ampliou-se ainda naquele período, com a gravação de “Courage” nos Estados Unidos, em 1968.
Ao longo da carreira, o artista lançou 47 álbuns, participou de 13 filmes, conquistou quatro Grammys e colecionou parcerias com grandes nomes nacionais e internacionais.
Com informações de Fiocruz Minas
