Há quem diga que a internet morreu, mas talvez o que esteja morrendo não seja a rede, e sim nossa presença dentro dela. Já ouviu falar da expressão internet morta? Ela surgiu em fóruns online e defende que boa parte do conteúdo digital já não vem de pessoas reais, mas de bots e inteligências artificiais.
E os números confirmam. Hoje, mais da metade do tráfego global da internet, 51 por cento, é gerado por bots, segundo relatório da Imperva. Desses, 37 por cento são bots maliciosos, responsáveis por interações falsas, manipulação e desinformação. Um cemitério digital onde máquinas repetem nossas vozes com uma perfeição assustadora.
Mas antes que as máquinas fingissem ser humanas, nós é que começamos a agir como máquinas. Trocamos a espontaneidade por performance, o diálogo por engajamento, a alma por métricas. Hoje, atendentes virtuais conversam conosco em chats de empresas. Algoritmos escolhem as músicas que ouvimos e assistentes de voz decidem o que responder. Nas redes sociais, inteligências artificiais geram posts, comentam, curtem e até criam influenciadores que nunca existiram.
Em muitos sites de notícias, textos já são escritos por robôs. Precisos. Rápidos. Sem olhar humano. Até nas relações pessoais, respostas automáticas e mensagens prontas substituem a pausa essencial de pensar antes de sentir.
Talvez a internet não tenha morrido. Talvez ela apenas tenha mudado de corpo e hoje viva nas inteligências artificiais que aprenderam conosco, imitando nossas emoções para nos manter conectados.
No fim, o que ainda é real? Talvez aquilo que nenhuma máquina consiga reproduzir: a imperfeição, o erro, o silêncio, a dúvida. Tudo o que nos torna imprevisíveis e, portanto, vivos.
A morte da internet só será definitiva quando desistirmos de ser humanos dentro dela.
