No Visão Macro de hoje, vamos voltar a falar de preço. Bom, na verdade, sobre como olhamos os preços. A primeira coisa é que a ideia inflacionária de taxa de variação simplesmente serve para economistas. No final das contas, o orçamento das famílias se importa mesmo é com o nível, ou seja, a partir dos salários, qual é a conversão específica a partir do nível atual de preços. Por que digo isso?
Porque, em geral, sempre discutimos as políticas econômicas focadas no controle da inflação como um todo. Isso é claro que é importante. A política monetária tem o seu papel. Mas o somatório da política econômica, entre política monetária e política fiscal, é ainda mais importante. Porque aqui temos que falar, necessariamente, como os salários reais se convertem a partir de níveis específicos de preço.
A grande dificuldade de hoje parece não ser mais necessariamente o processo inflacionário em si ou a taxa de variação em si, mas o nível em que os preços se encontram vis-à-vis os níveis de salários nominais que as famílias enfrentam. Isso vale para o Brasil, mas também vale para o mundo.
É interessante notar, inclusive, pesquisas falando sobre o mercado americano, do número de pessoas que aumentaram a procura pelo segundo emprego simplesmente para manter o padrão de vida, dado a variação do nível geral de preços ao longo do tempo, que estabeleceu este mesmo nível em patamares muito mais elevados do que os salários, de fato, estavam sendo condizentes. Isso é interessante de falar porque a política resolve parte do problema.
E essa batalha parece que está razoavelmente acertada — não digo ganha, mas no caminho correto. Mas, para ajustar esse problema do salário real ou do que temos capacidade de fato de consumir dentro do nosso orçamento, é óbvio que não podemos falar que as políticas econômicas corretas vão simplesmente dividir o preço por dois para voltar ao que era antes. Não, não, não.
Aqui, o importante da discussão é como as políticas econômicas corretas — e aqui a política fiscal somando a política monetária — fazem com que os ganhos salariais reais sejam, de fato, positivos. A política econômica ou a política como um todo tem que estar de acordo em minimizar esta problemática, não somente o processo da variação em si. De novo, taxa de variação é importante, claro, mas serve muito mais para economistas do que para as famílias, de fato.
Temos que ter muito mais decência e coragem de olhar a situação específica de conversão da cesta de bens do que, necessariamente, uma divisão ou um processo percentual.
Aqui, talvez, a grande lição fique também com tudo o que tem sido descrito pelo Banco Inter, num excelente processo de trabalho de pesquisa econômica, por André Cordeiro Valério e Gustavo Peixoto Menezes, que simplesmente reestimam de maneira correta, e por grandes efeitos da taxa de participação menor e da informalidade, a real taxa de desemprego. Como deveríamos estar olhando para isso? Porque a taxa de desemprego está na mínima, mas os salários reais não.
A taxa de variação tem convergido, mas os níveis ainda se mantêm muito altos e vão se manter. Enquanto não ajustarmos os salários, isso não vai resolver. Essa é a relação mais básica da economia: curva de Phillips. A curva de Phillips nos dá, então, todo esse processo da relação entre inflação e emprego. É importante colocarmos que a inflação não é ruim por si só, assim como a deflação não é boa. Na verdade, o que devemos olhar é o processo contínuo, controlado, dos preços.
Vale a máxima da macroeconomia de que mais demanda é mais produção, mais produção é mais renda. Aqui temos que olhar sempre a constância do aumento produtivo em conjunto com a própria capacidade de renda para não causar causalidade inflacionária e alteração constante do nível de preço de maneira muito extremada.
É interessante notarmos que esse trabalho do Banco Inter, pelos economistas referidos, traz uma mensagem muito clara: preços sobem, salários não. E, a despeito da taxa oficial de 5,6% de desemprego, a real taxa ajustada por todos os impactos de informalidade, taxa de participação e desocupação, na verdade, estaria mais próxima de nove.
Quando olhamos para esse número, faz muito mais sentido o que vemos hoje no orçamento das famílias, pelo nível e não pela taxa de variação.
