A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) afirmou recentemente que os preços elevados nos restaurantes e lojas dos aeroportos ajudam a manter uma das tarifas de embarque mais baixas do mundo. Segundo a agência, as receitas não tarifárias — como alimentação, comércio e serviços — complementam as receitas das concessões, equilibrando os custos operacionais dos terminais.
No modelo de concessões aeroportuárias brasileiras, boa parte da arrecadação vem dessas atividades comerciais. Estimativas da própria ANAC indicam que entre 55% e 60% das receitas dos aeroportos vêm de segmentos como alimentação e varejo, enquanto as tarifas reguladas e outorgas representam entre 40% e 45%. Na prática, o passageiro paga pouco pela infraestrutura, mas arca com preços abusivos nos cafés, lanchonetes e lojas.
Manter tarifas de embarque baixas, subsidiando a receita via comércio caro, pode soar como uma solução virtuosa, mas é economicamente ineficiente. Essa estratégia cria distorções nos incentivos: aeroportos e concessionárias passam a depender de margens altas no comércio, encarecendo serviços e reduzindo a competitividade.
O problema é ainda mais estrutural. Essas receitas acessórias só são elevadas porque o movimento dos aeroportos é limitado. Para equilibrar as contas, os concessionários cobram caro dos lojistas, já que não há volume de passageiros suficiente para compensar no faturamento. O resultado é um ciclo perverso: menos passageiros, preços mais altos; preços mais altos, menos consumo.
Com mais voos e maior fluxo de passageiros, os preços naturalmente cairiam e o volume de vendas compensaria, seguindo a regra básica de oferta e demanda. O preço ideal não é o mais alto, mas aquele que maximiza a receita com mais consumidores satisfeitos. Hoje, o passageiro paga duas vezes — no café caro e no custo de oportunidade de um transporte aéreo menos dinâmico.
Tributos ou subsídios não resolvem a questão. O desafio é entender qual o custo real de operar aeroportos modernos, conectados e competitivos. Em economia, não existe alquimia: reduzir tarifa aérea à custa de superfaturar o comércio é insustentável e injusto a longo prazo.
A solução passa por eficiência operacional, revisão regulatória, mais concorrência nas concessões e menor dependência de receitas marginais que penalizam o consumidor. Enquanto isso não mudar, o passageiro continuará pagando de duas formas — na tarifa barata e no pão de queijo inflacionado.