O governo americano anunciou a redução das tarifas globais sobre o café para 0%, uma medida que, segundo alguns exportadores brasileiros, teria deixado a situação do Brasil ainda pior. Mas é importante explicar: isso não é verdade. O diferencial competitivo que sempre prejudicou o Brasil continua exatamente o mesmo. Antes, os Estados Unidos cobravam 10% de tarifa sobre todos os demais produtores de café e 50% sobre o Brasil.
Agora, retiraram os 10% globais, mas mantiveram 40% para o café brasileiro. O diferencial permaneceu intacto, 40 pontos percentuais. Nada mudou no que realmente importa. Na prática, isso significa que, para o consumidor americano, o café pode até ficar ligeiramente mais barato, já que 10% a menos nos concorrentes reduz um pouco o preço médio do produto. Mas o impacto é pequeno.
Porque o Brasil segue sendo o maior produtor do mundo e segue sendo, disparado, o país mais tarifado pelos Estados Unidos. Portanto, não é essa mudança que piorou a situação do Brasil. O problema real não está em Washington, está em Brasília. A redução das tarifas globais apenas escancara a incapacidade negocial do governo brasileiro.
Os Estados Unidos vêm dando sinais repetidos — econômicos, políticos e comerciais — de que estão buscando parceiros para diminuir o impacto das próprias tarifas. A Argentina acaba de avançar, o Brasil não.
Isso significa que, para o café brasileiro e para qualquer outro setor exportador, o maior risco segue vindo do próprio governo brasileiro, que até agora não conseguiu apresentar avanços concretos, propostas sólidas ou articulações minimamente eficazes para defender nossos interesses. Se há negociações em andamento, como o Brasil insiste em afirmar, elas parecem estar em um estágio estritamente contemplativo. Em economia, não existe alquimia.
Se um país não sabe negociar, se não constrói pontes e se não defende seus próprios produtos, ele perde espaço. Não porque o concorrente avançou, mas porque ficou parado. Tarifas importam, mas a omissão importa muito mais. Para os produtores brasileiros, a mensagem é dura, porém clara: a situação só é pior porque o governo brasileiro falhou novamente na diplomacia comercial.
