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Alienígenas, contatos mortais

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Imagem: Acervo Daniel Rebisso

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Às 8h55 de 17 de outubro de 1976, domingo, Rubem Tavares de Moura (1942-2016), professor licenciado de Geografia da Universidade Federal do Pará e astrônomo amador, avistou um objeto discoide luminoso nos céus. Sendo amante de astronomia, Tavares de Moura, então residente no Conjunto Médici, localizado na Rua Prainha, no 374, em Belém, Pará, estava familiarizado com a observação de astros e de satélites artificiais em noites límpidas. Porém, a visão do OVNI, em pleno dia, deixou-o pasmo. Numa declaração para o jornal O Liberal, ele escreveu:

“A permanência do estranho objeto teve a duração de aproximadamente quinze minutos. O que mais me impressionou foi que, ao fixar a vista no objeto que emitia luz, senti que os meus olhos ficaram turvos e ardidos, como se alguém lançasse um feixe de luz de altíssima voltagem sobre a minha vista. Tive que abaixar a cabeça e esfregar os olhos. Ao tentar localizar novamente o objeto, ele havia desaparecido de forma inexplicável, sem deixar qualquer vestígio ou rastro. Sensação igual foi sentida por meu vizinho que presenciava o fato. A princípio, pensei tratar-se de um planeta, Vênus, por exemplo, que muitas vezes, em determinada época do ano, é visível neste horário. Mas o objeto se movimentava com alta velocidade, parava e logo desaparecia. Não poderia ser um planeta, pois, se assim fosse, ele estaria contrariando as leis da Mecânica Celeste. Depois, lembrei-me da estação científica Salyut-5, mas qual o mistério do seu repentino desaparecimento, explosão ou desintegração? Seria um disco voador que muita gente fala por aí, aos quais são atribuídas origens diversas, como engenho de guerra (russo, americano ou chinês), fenômeno meteorológico, aeronave espacial extraterrestre ou uma ilusão de ótica? Francamente, não sei como explicar.”

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O professor desenhou um gráfico mostrando a passagem do objeto. Várias outras pessoas, que também testemunharam a aparição, telefonaram para a redação do jornal O Liberal comunicando o fato. O caso, embora incomum, não se compararia, entretanto, aos que viriam depois, de intensidade, frequência e violência muito maiores.

No domingo de 19 de junho de 1977, por volta das 19h, no município de Viseu, Francisca Costa Silva, o marido Aurélio, os filhos Raimundo, de 11 anos, e Antônio Élcio, de 9 anos, além de diversas outras crianças da vizinhança, estavam na rua, diante das respectivas casas. De repente, Antônio Élcio foi envolvido por uma estranha luz amarela que desceu do céu e ficou paralisado. Aos outros, por não estarem sob o foco luminoso, nada sucedeu. Quando a luminosidade disparou no espaço, com uma velocidade vertiginosa, o menino, como que sem forças, foi ao solo, permanecendo acamado por três dias, com tremores e febre alta. Os genitores chegaram a pensar que ele não sobreviveria, mas Antônio Élcio, enfim, se recuperou, tornando-se conhecido em toda Viseu, não mais saindo, porém, depois das 18h.

Esse não havia sido o primeiro episódio hostil: desde algum tempo os viseuenses reportavam algo semelhante a “uma lanterna de luz forte que vagueia pelo céu e desce para sugar o sangue das pessoas, até deixar morto”. Por causa disso, boa parte da população, apreensiva e apavorada, deixou de sair de casa depois do anoitecer.

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Em julho, quase todos os residentes na Vila do Piriá já relatavam o avistamento de diversos objetos aéreos luminosos. Mas, na vizinha Vila de Itaçu, ninguém vira nada. Apesar disso, também em Itaçu era geral a crença nos tais objetos, talvez por ser grande o intercâmbio entre as duas comunidades.

As vilas de Piriá e Itaçu ficavam cerca de 15 km da sede do município, onde as opiniões se dividiam, ocorrendo, por vezes, discussões ferrenhas entre crentes e descrentes das luzes voadoras. O delegado de polícia de Viseu, Sabino do Nascimento Costa, chegou a investigar o caso da professora Maria Goretti Garcia, moradora de Colônia Nova, no km 114, que disse haver visto um OVNI de formato cilíndrico sobrevoando a casa dela, emitindo luz muito forte. Impressionado com o fato de a professora estar bastante assustada, e ciente da formação cultural dela ser acima da média local, o delegado considerou o depoimento bastante sério.

Em São Luís, no Maranhão, o fenômeno esteve igualmente ativo. Uma das primeiras testemunhas a relatar o avistamento de um OVNI no município de São Vicente de Ferrer foi Vilma das Graças Castro Sales, ex-Miss Maranhão, a qual reportou a uma equipe do Jornal Pequeno, em 7 de junho de 1977, que o objeto possuía cor amarela e fazia muito barulho. Acrescentou que a coisa aterrissava no meio do campo, ficava ali por alguns momentos, em seguida decolava em velocidade extraordinária, já com outra cor, agora azulada, e desaparecia no firmamento.

Logo outras testemunhas surgiram, descrevendo OVNIs de formatos diferentes e experiências de maior interação e agressividade:

“Eram aproximadamente 3h da madrugada do último dia 14 [de julho de 1977], quando o lavrador Vicente Gomes transitava por uma estrada carroçável, no lugarejo Guarapiranga, Município de São Bento, montado em seu cavalo, e ao levantar a vista para o céu viu surgir repentinamente em sua direção uma luz misteriosa, em formato de um papagaio (diversão de crianças). ‘A luz era forte, me encandeou e desmaiei’, é só o que pode narrar o lavrador Vicente Gomes, casado, pai de oito filhos. Levado por familiares em busca de socorro, o lavrador, depois de recuperado, continua fazendo tal narração lucidamente.”

Às 12h do dia 8 deste mês, o empregado da fazenda Ariquipá, Raimundo Correa, conhecido como Raimundo Socó, foi queimado por uma misteriosa tocha, causando lesões em seu corpo. No seu entender, o objeto tem forma de uma grande bola. Raimundo Socó foi atingido quando regressava de Bequimão.

Este problema não está restrito somente a estes municípios. Estende-se a toda a baixada maranhense e a população está cautelosa, não saindo de casa durante a noite.

O desenho de um OVNI avistado em Pinheiro foi publicado no jornal O Estado do Maranhão, de 17 de julho de 1977: mostrava um bloco de quatro faces, com uma abertura circular em cada face, e das aberturas saía um feixe de luz. No topo do bloco havia uma cobertura semelhante a um guarda-chuva metálico, e embaixo um tripé. Na mesma data (17 de julho), o Jornal Pequeno noticiou o aparecimento de bolas de fogo em Santana, lugarejo a menos de 10 km do município de Anajatuba. Os globos incandescentes amedrontavam a população e ocasionalmente realizavam ataques, provocando desmaios e traumas nas vítimas. Um objeto aéreo em forma de “Y”, com uma chama na parte inferior, foi filmado na Baixada Maranhense pelo cinegrafista Cinaldo de Araújo Oliveira, da TV Difusora, e as imagens veiculadas na televisão no dia 21 de julho de 1977.

Alguns enganos puderam ser constatados. Às 2h da madrugada do dia 26 de julho de 1977, terça-feira, Francisco Baima da Silva, cartógrafo lotado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), chegou apavorado à sede do Jornal Pequeno, dizendo haver visto um disco voador a uns 700 m de altura nas proximidades da Costa do Sol, parecendo ir pousar. Baima da Silva estava de carro e inicialmente pensou ser o objeto no céu um avião, mas a pessoa que viajava com ele discordou. O cartógrafo disse à reportagem: “Sendo informado que a luz terrestre atrai os discos, apaguei a luz do meu carro, o AC-4207, para ver o que eles queriam. Depois de olhar o estranho objeto todo iluminado e com um colorido muito lindo, notei que o mesmo desapareceu, voltando a aparecer quando eu me encontrava próximo à Amatur”.

Os repórteres do Jornal Pequeno deduziram que o OVNI provavelmente foi visto também pelos funcionários do aeroporto local, com quem decidiram entrar em contato. Eles apuraram tratar-se de um avião da Transbrasil em procedimento para pouso, a 1h30 da madrugada. Devido à chuva miúda e à neblina, por mais de uma vez o comandante da aeronave teve que acender os refletores para divisar melhor a pista, deixando iluminadas, com isso, as faixas coloridas da aeronave da Transbrasil.

Em agosto, o próprio diretor do Departamento de Polícia do interior do Estado do Maranhão, Ariel Vieira de Moraes (1942-2014), viu passar no céu, em alta velocidade e no mais completo silêncio, um objeto redondo, emitente de luz alaranjada. Para ele, a coisa não era avião, helicóptero ou qualquer outro invento do homem.

Semanas depois, o fenômeno teve lugar no município paraense de Vigia, mais exatamente na Vila Santo Antônio do Ubintuba, localizada no km 32: aparentemente, uma nave arredondada projetava uma luz branca sobre as pessoas – mulheres, na maioria das vezes –, as imobilizava e lhes tirava uma porção de sangue, deixando a população do vilarejo, de pouco mais de cem habitantes, apavorada. A ocorrência foi comunicada às autoridades por Humberto Bandeira e Abel Soares Trindade, este último, uma das vítimas da luz, juntamente com a esposa América Trindade, em 6 de outubro de 1977. O ataque se dera às 19h.

A luz misteriosa foi denominada “bicho sugador”, “bicho voador”, ou ainda, “chupa-chupa” pelos vigienses, que, temerosos e aflitos, passaram a não andar sozinhos à noite. Uma casa foi escolhida a fim de abrigar toda a população e, dessa maneira, impossibilitar ou pelo menos dificultar a ação da coisa. Promessas eram feitas diariamente a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira de Vigia, rogando para a comunidade ser deixada em paz.

O objeto, ou outro semelhante, também foi avistado, mais de uma vez, no município paraense de Marapanim, causando a fuga de parte dos moradores. Foi o caso de Maria Luiza Eleres Monteiro, que abandonou o lugar para procurar casa em Belém. Em entrevista ao jornal O Liberal, ela disse que o OVNI – chamado por ela, com segurança, de “disco voador” – baixou no Campo do Bom Intento, no interior de Marapanim, lançando jatos de luz para todos os lados. O irmão dela, só de ver a aparição, ficou tonto e caiu desmaiado, sendo carregado para casa por outras testemunhas. Nas palavras dela:

“Depois das 7h [da noite], ninguém mais sai da sua porta. Imagine a situação das crianças que não podem sair. Meu irmão desprezou a casa dele e veio embora, o prefeito não tomou nenhuma providência, está todo mundo com medo. Diz que essa luz tira o sangue da gente, atravessa o telhado, e vai pegar a pessoa dentro da casa, corta o homem no ombro e a mulher no seio. Muita gente está saindo da cidade, imagine, Marapanim está ficando abandonada, eu estou preocupada mesmo com a minha família, porque ainda não consegui nada.”

Posteriormente, Maria Luiza Eleres Monteiro conseguiu fixar residência na Pedreira, na capital do Pará.

O prefeito de Vigia, José Ildone Favacho Soeiro, tomou conhecimento dos fatos pelo comissário Benjamin Amaral Amin (1920-2010), que tivera dois parentes atacados: a filha e o irmão. Antônia Amada Amin, de 29 anos, depois de ser atingida por raios vermelhos projetados pelos OVNIs, ficou abalada psicologicamente; já o irmão Amadeu Amin, testemunha das luzes em duas ocasiões, nos dias 12 e 18 de outubro de 1977, teve o seguinte depoimento publicado no jornal A Província do Pará:

Eram 6h da manhã [de 12 de outubro de 1977]. Eu estava na Serraria São Braz ainda deitado quando vi um objeto semelhante a um forno de fazer farinha se aproximar, sendo o fundo pintado de vermelho e por cima um cinza bem claro. Ele parou a 50 palmos do chão, mas depois desapareceu, levando consigo sua luz clara. (…) A segunda vez foi ontem (terça-feira), por volta das 6h30 da manhã, era da mesma semelhança do primeiro, mas a cor diferente, ou seja, preto lançando os raios vermelhos. Fiquei como louco e à noite fui dormir com minha mulher e meus filhos na casa de meu sobrinho Walter Amim.”

O dia 18 de outubro de 1977 foi marcado por uma série de aparições sobre Vigia, quando o comissário e o próprio prefeito viram os OVNIs. Por volta das 18h45, José Ildone Favacho Soeiro estava em casa, na Rua Jansen de Melo, no 268, conversando com a esposa Janete Miranda Soeiro, e ouviu pessoas do lado de fora comentando que um objeto desconhecido irradiando luz amarela estava cruzando os céus em espantosa velocidade. Como já havia ouvido falar na aparição desses objetos, ele correu para a janela e viu um subir da Ilha de Tapará, localizada atrás da cidade, e se dirigir para Santo Antônio de Ubintuba, onde desceu em menos de dois minutos, sumindo das vistas de todos. Vigia inteira estava no escuro, pois a luz das Centrais Elétricas do Pará (Celpa), ligada todos os dias às 18h, havia falhado, talvez por interferência do estranho aparelho.

Dois minutos após desaparecer, o OVNI ressurgiu e rumou para o bairro de Arapiranga, onde sumiu novamente. Na Ilha de Colares, situada em frente a Vigia, outro aparelho, similar ao primeiro, apareceu misteriosamente, indo se ocultar no mesmo bairro. Quando parecia que o espetáculo havia terminado, surgiu mais um objeto, este da Ilha de Candeúba, que se deslocou velozmente para Arapiranga e quase se chocou com outro, vindo não se sabe de onde.

As evoluções dos objetos sobre a cidade de Vigia. Desenho publicado no jornal A Província do Pará, edição de 20 de outubro de 1977.

As aparições duraram ao todo cerca de quinze minutos. Ao fim disso a luz elétrica voltou a ser fornecida para a cidade. Os OVNIs aparentavam estrelas, não sendo possível ver quaisquer detalhes em razão da elevada altura em que se encontravam. O filho do prefeito, Hélder de Jesus Miranda Soeiro, de 12 anos de idade, foi um dos que testemunharam o fenômeno, juntamente com a avó Irene Favacho Soeiro (1919-?) e o vereador Mário Laércio Aleixo Alves.

Nas horas seguintes, equipes do jornal A Província do Pará e da TV Marajoara visitaram várias casas na Vila Santo Antônio do Ubintuba e em todas se viam grupos de famílias dormindo juntos. Pessoas incumbidas de dar qualquer alarme no caso da aparição de um disco voador trocavam de turno periodicamente. Às primeiras horas da madrugada do dia 19, o próprio comissário Amin foi encontrado pela equipe do jornal A Província do Pará armado de espingarda cartucheira e de uma pequena lanterna em uma das mãos, vigilante. Ele disse que até aquele momento já haviam passado seis objetos, lançando raios ora verdes, ora vermelhos e, em outras ocasiões, amarelos.

No dia 20 de outubro de 1977, finalmente, o prefeito de Vigia mandou ofício ao I Comando Aéreo Regional (I Comar) em Belém relatando os acontecimentos e pedindo auxílio. O comandante da organização militar, major-brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira (1923-2003), enviou uma equipe para investigar. Integraram essa equipe, em diferentes momentos: capitão Uyrangê Bolivar Soares de Nogueira de Hollanda Lima (1940-1997); primeiro-sargento João Flávio de Freitas Costa (1935-1993); segundo-sargento Moacir Neves de Almeida; terceiro-sargento João de Deus Barbosa do Nascimento (1935-2018); terceiro-sargento Álvaro Pinto dos Santos (1935-2001); taifeiro Edivaldo Douglair Correa Pinheiro, entre outros. Alguns dias depois do início da chamada “Operação Prato”, o tenente-coronel Camillo Ferraz de Barros (1937-2019), chefe da 2ª Seção do I Comar, prestou a seguinte declaração à imprensa:

“Nada existe de concreto, até o presente momento, sobre o Objeto Voador Não Identificado – OVNI, que está deixando quase em pânico a população de vários municípios paraenses, entre os quais, Vigia e Santo Antônio do Tauá. Algumas pesquisas foram feitas nestas áreas, e nada foi cientificamente comprovado. Tudo não passou de uma mera ilusão de ótica por parte da população, que é de baixo nível intelectual. Os moradores confundiram os satélites artificiais existentes na região e os meteoritos que riscam os céus, com naves extraterrenas.

As reações orgânicas que sofrem as pessoas que travam conhecimentos com os seres ditos interplanetários são provenientes de uma reação de temor. Tudo tem por causa os vários comentários prematuros sobre o problema. As pessoas que falam desconhecem qualquer senso de lógica.”

A despeito da descrença da declaração, os ataques prosseguiram, principalmente contra mulheres. As que se diziam atacadas exibiam pequenas marcas nos seios, como se fossem picadas de injeções. A situação tomou tamanha proporção que, em 17 de novembro de 1977, na Câmara Municipal de Belém, foi realizada uma reunião com o prefeito belenense, Ajax d’Oliveira (1925-2009), e autoridades civis e militares, do Município e do Estado. O encontro havia sido idealizado pelo vereador Carlos Couto e contou com a participação dos também vereadores Adamor Filho, Daniel Cardoso, Eloi Santos e Fernando Moraes.

Adamor Filho comentou que um médico amigo dele opinara que tudo não passava de psicologia de massa. Informou, todavia, que técnicos da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, dos Estados Unidos, já se encontravam em Belém para estudar o assunto. Fernando Moraes, por sua vez, declarou que teve a oportunidade de assistir, no dia anterior, a uma multidão olhando para o céu em busca da “luz misteriosa”. Já Eloi Santos fez longas considerações acerca do caso e pediu uma definição por parte das autoridades competentes, frisando que, embora encarado com incredulidade por certos setores, o fato não devia ser ignorado, pois já não era possível negar ser Belém agora uma cidade amedrontada. Disse também que os telefonemas para as redações de emissoras de rádio e de jornais de vários pontos da cidade, indagando se iria faltar energia elétrica devido à presença de discos voadores, eram um sintoma de que parte da população estava apavorada. E lembrou ainda que as autoridades que investigaram o fenômeno em Viseu e em Bragança concluíram que tudo não passava de fantasia dos moradores. Mostrou-se, porém, surpreso com as declarações das testemunhas que viam luzes atravessando os telhados das suas casas, para lhes furar a pele e retirar um pouco de sangue, deixando a epiderme com marcas visíveis de agulhas e queimaduras. Ao que lhe constava, balões atmosféricos, satélites e meteoritos não eram utilizados para coleta de sangue em parte alguma do planeta.

Na mesma noite dessa reunião, ocorreu o célebre caso de Aurora do Nascimento Fernandes, de 18 anos, residente na Rua Passagem Tabatinga, no 74, no bairro do Jurunas. Por volta das 21h, ela regressava do parque infantil construído na Avenida Roberto Cameliere, quando, ao chegar em casa, dirigiu-se até o quintal, para lavar a louça. Foi quando ela foi atacada por um OVNI luminoso e, apavorada, chamou pela mãe, antes de desmaiar. Eunice Júlia Nascimento, ao socorrer a filha, sentiu forte cheiro de éter. Com a ajuda do irmão Waldir Nascimento, Aurora, fraca e com dores no corpo, foi colocada na cama e, depois, levada pelo pai, Sinval Fernandes, ao Pronto Socorro Municipal. Não foi atendida e regressou para casa numa Kombi do jornal A Província do Pará. Devido à piora em seu estado de saúde, ela voltou ao pronto socorro, sendo-lhe agora ministrado um calmante. No dia seguinte, 18 de novembro, Aurora continuava fraca e com dores de cabeça tão fortes que a faziam contorcer-se no leito. Ainda na manhã desse dia, ela foi examinada pelo médico legista Wilton Reis, que se interessou pelo caso depois de saber do ocorrido por um conhecido de Aurora que trabalhava no Instituto Médico Legal como motorista. Reis fez uma fotografia a cores da lesão.

O jornal A Província do Pará noticiou a história na edição de 19 de novembro de 1977, mas com uma série de imprecisões que foram corrigidas mais de quarenta anos depois pela vítima, acompanhada da mãe, em entrevista filmada pelo psicólogo castanhalense Pedro Ferreira, no dia 21 de outubro de 2018. Por exemplo: o jornal não citou se a jovem chegou a ver ou não o OVNI; divulgou que ela teria sentido uma forte corrente de ar frio no momento do ataque e que foi ferida acima do seio direito. Na verdade, o OVNI foi visto por ela, pelos parentes que estavam na sua casa e até pelos vizinhos. Não houve vento no momento do ataque e a lesão ocorreu do lado esquerdo. Nas palavras dela:

“Eu vi um objeto, e ele ficava por trás da árvore, não é, mamãe? Aquele… assim, tipo umas luzinhas coloridas. E aquele foco, que veio bem em cima, aqui por cima da castanheira, que era a árvore, veio por cima, e veio certinho em cima de mim, que tava na pia, lavando louça. (…) Só senti aquele impacto, aquele impacto que bateu assim no meu peito, e eu caí. (…) Aí eu retornei com a mamãe já me levantando.”

Em 19 de novembro de 1977, o médico Orlando Salomão Zoghbi (1927-2018), a convite do jornal A Província do Pará, visitou e examinou Aurora e outras duas jovens, Maria Augusta Elizeu de Oliveira, de 18 anos e Maria Carmem do Socorro Lobo, de 13 anos, que se diziam atacadas pelo “chupa-chupa”. Ele observou e concluiu o seguinte:

“1 – As ruas onde as pacientes moram são desprovidas dos mais rudimentares elementos de sobrevivência no setor de: educação, saúde, transporte, alimentação social e econômica.

 2 – A idade das pacientes corresponde à faixa crítica dos adolescentes: tudo desejam e pouco ou quase nada produzem na área física.

 3 – Na adolescência, área transitória da vida, fase dos sonhos, os desejos reprimidos são imensos, pois a mente fértil de ideias, nas quais a totalidade da área material não é satisfeita, gerando informações numerosas ao sub e ao inconsciente.

4 – Que as visões observadas pelas pacientes atacadas pelo ‘vampiro extraterreno’ são fruto do estado d’alma, em sintonia com o inconsciente, produzindo uma excitação psicomotora.

5 – Que as lesões observadas nas pacientes são devidas às reações de horror, ocasionadas por choque adrenérgico, pois as mulheres, instintivamente, num ato de proteção, levam as mãos aos seios e a ação motora contraindo as mãos em garra ocasionou as lesões nas glândulas mamárias.

6 – Que o estado emocional em que se encontram as pacientes aconselha que as mesmas sejam assistidas, recebendo toda atenção de um psicólogo.

7 – Até o momento falamos das pacientes-cobaias dos ‘vampiros extraterrenos’. Agora vamos analisar o fator desencadeante do problema que se processou numa reação em cadeia, originando-se no município de Viseu e noticiado nos jornais de vários Estados. Logicamente, em qualquer lugar do mundo, vamos encontrar pessoas supersensíveis, às quais mal se fala de um sintoma e já o estão sentindo.

8 – A neurose coletiva que se observa numa cidade despoliciada, conforme se observa nas colunas policiais devido à crescente onda de assaltos, motivada pela desordenada migração do homem do campo para Belém, foi reforçada pelos meios de comunicação mal orientados, gerando pânico nos habitantes com menor poder de raciocínio. Aí gerou a crendice na massa, da existência do tal ‘vampiro extraterreno’.

9 – Resumindo: a população de Belém pode ficar tranquila, devido não ser realidade a existência de nenhum ser sobrenatural ou extraterreno estar atacando pessoas, principalmente moças. As pessoas porventura apavoradas com a falsa ideia de serem atacadas devem ser encaminhadas a um psicólogo. Finalmente: os meios de comunicação devem esclarecer os fatos, procurando incutir na população segurança e nunca insegurança”.

Aurora do Nascimento Fernandes sendo examinada pelo Dr.Orlando Zoghbi, em 19 de novembro de 1977.

Marcas no seio de Aurora do Nascimento Fernandes.

Segundo Zoghbi, as lesões dérmicas encontradas nas vítimas visitadas seriam resultado de um ato instintivo de proteção: a contração da mão em garra sobre a região mamária. Conforme se pode constatar nas fotografias feitas, porém, tais lesões não apresentavam aspecto ungueal nem ranhuras, assemelhando-se a pequenas perfurações dispostas em círculo. Além disso, os ataques a algumas das moças foram testemunhados por outras pessoas, como vizinhos e parentes, que inclusive viram o OVNI agressor, como foi o caso de Aurora do Nascimento Fernandes. A explicação também não pode ser aplicada às vítimas do sexo masculino nem a adultos, como o pescador paraense Benedito da Conceição Silva, de 29 anos, que, no dia 19 de novembro de 1977, em Genipaúba, município de Benevides, foi atingido pelo foco. De acordo com o próprio:

“Eram 4h da manhã, quando eu saí pra pescar com meu filho de 14 anos. Joguei a rede e fiquei na proa da canoa, então fiquei olhando pro chicote da rede. Quando olhei para o céu, vi uma estrela que estava muito acesa, eu tô acostumado a pescar e olhar pro céu, sempre vejo as estrelas do jeito que todo mundo vê, mas essa era diferente. Então, quando baixei a cabeça, um clarão azulado me rodeou, foi quando senti um raio muito forte empurrar, para fora da canoa. Depois disso, desmaiei e quando acordei já estava na beira do rio.

Logo de início, não conheci meu filho, fiquei com medo dele e saí correndo, tropecei e caí, depois da queda é que fui conhecê-lo. Então eu disse ‘vamos embora’ e comecei a andar no mato sem sentido, pra um lado e pra outro. Aí meu filho me disse que eu estava andando errado, então eu disse pra ele, ‘passa na frente que eu não sei mais o que eu estou fazendo’. Depois de muito esforço, ele conseguiu me trazer pra casa. Eu tenho um braço quebrado e nele eu tenho platina. De vez em quando eu sinto dar choque nele, e sinto também como se eu tivesse uma argola no pescoço, quando eu me mexo muito, ela me aperta, não sei o que é, todo mundo diz que é besteira minha, mas eu sinto mesmo.”

Em dezembro, os OVNIs apareceram na vila – hoje município – de Marituba. A doméstica Luzia de Lima Sobral, 41 anos, residente na casa no 168 da 5a Rua de Marituba, foi atacada por um dos objetos luminosos. Ela caminhava pela Rua São Francisco da referida vila, então pertencente ao município de Ananindeua, levando ao colo o filho de um ano e oito meses de idade, quando foi surpreendida por fortíssima luminosidade e intenso calor, por pouco não largando a criança. Não viu nenhum aparelho, mas sim, apenas, um foco intenso de luz. O menino também sentiu o calor elevado e chorou abundantemente.

Muita gente acreditou na narrativa de Luzia de Lima Sobral. Porém, muito maior era o número de incrédulos até que outro caso, presenciado por certo número de pessoas, fez com que os maritubenses passassem a comentar com menos descrença sobre a reaparição dos chamados discos voadores ou “chupas-chupas”.

O caso passou-se em frente da casa no 155, da Rua da Pedreirinha, exatamente às 22h10 de 13 de dezembro de 1977, quando quatro pessoas que caminhavam pelo local – uma família e um rapaz –, foram atacados por um objeto voador extremamente luminoso. A família era constituída pelo norte-rio-grandense José Gomes de Lima, casado com a paraense Maria Ribeiro da Silva e pai do estudante paraense Edilson Ribeiro da Silva. O rapaz que andava junto à família não logrou ser identificado. Essas quatro pessoas foram surpreendidas por uma bola incandescente que projetava um raio de luz abrasador. Quando a mulher gritou aterrorizada, José Gomes de Lima sacou o revólver calibre 32 que carregava e atirou no OVNI. Os moradores do lugar ouviram o disparo e acudiram apressados. As vítimas, de início, não sabiam explicar o ocorrido, balbuciando apenas que por sobre eles passara um objeto voador desprendendo calor demasiadamente.

As aparições continuaram no ano seguinte. Eram aproximadamente 20h de sábado, 18 de março de 1978, quando três luzes passaram sobre a Ilha de Colares a grande velocidade. A notícia circulou rapidamente pela ilha, fazendo o povo ficar atento ao céu. Por volta das 22h, um pescador informou ter visto o trio de luzes passar em direção à Ilha do Mosqueiro. À 1h40 da madrugada de domingo, dia 19, em Machadinho, distante 5 km de Colares, o OVNI tríplice voltou a ser visto, agora por pelo menos cinquenta habitantes.

A redação do jornal O Estado do Pará enviou o jornalista Biamir Siqueira (1934-1997) e o fotógrafo José de Ribamar Prazeres (1930-2006) à Baía do Sol para investigar. A dupla alegou ter conseguido documentar os OVNIs após 41 dias de vigília, produzindo uma série de cinco reportagens, publicada nas edições do jornal O Estado do Pará de 25 a 29 de junho de 1978.

A primeira observação teria ocorrido em 24 de maio de 1978:

“A noite estava clara e não havia estrelas no céu. Às 2h da madrugada, abrigados no carro devido à forte chuva, os repórteres foram despertados por um acentuado foco de luz, que ultrapassou, por incrível que pareça, a estrutura metálica do teto do veículo. Sobressaltados, saíram rapidamente. Comprovaram, então, já um pouco distante do carro, que um foco de luz em forma de tubo, com cerca de 10 polegadas de diâmetro, era dirigido do alto sobre o teto do carro, ultrapassando a chapa metálica. Tudo isso durou aproximadamente dois minutos. Depois, o aparelho, que emitia o foco de luz e que estava estacionado no espaço sem fazer o menor ruído, quando começaram a ser feitas as fotografias, imediatamente iluminou, sem sair do lugar em que estava, as copas das árvores nas proximidades.”

Quase todas as fotografias publicadas nas matérias mostravam luzes globulares num céu noturno absolutamente preto, sem quaisquer paisagens. A edição de 26 de junho estampou duas imagens: na capa, um OVNI extremamente brilhante avistado no dia 20 do mês referido; no miolo, um OVNI em forma de pião.

A edição de 29 de junho, que deu fim à série de reportagens, dizia: “Ninguém (nem mesmo os órgãos oficiais) desmentiu a matéria por nós publicada. Nossos filmes foram analisados por especialistas e nada de forjado foi encontrado”. Tais afirmações, contudo, não correspondiam à realidade. Nessa última reportagem foram estampadas duas fotografias, sendo que a primeira, na capa, tinha por legenda “Uma foto histórica: o contorno bem definido de um OVNI” e a segunda, na p. 14, mostrava um OVNI em forma de pipa com a legenda “A nave, que estava parada sobre o mar, levanta voo em alta velocidade”.

Na verdade, pelo menos a segunda dessas fotografias era forjada: graças ao original obtido pelo biomédico boliviano Daniel Rebisso Giese, comprovou-se que o “OVNI-pipa” havia sido formado a partir de um risco na camada fotossensível do suporte e do desprendimento parcial dessa camada. A descoberta da fraude pôs em dúvida a autenticidade de todas as fotografias publicadas pelo jornal O Estado do Pará, bem como a veracidade da história contada pelos jornalistas a respeito da obtenção dos registros.

Sabe-se de algumas filmagens feitas por militares e por particulares, como a do cinegrafista da TV Difusora do Maranhão, que filmou um OVNI semelhante a um “Y” em julho de 1977, e a de Virgílio Ernesto Arantes Mello (1935-1978), que teve a oportunidade de filmar as luzes, em 28 de janeiro de 1978, com equipamento do empresário Adalberto Kovacs Nogueira (1928-2015). O paradeiro dessas filmagens, contudo, permanece ignorado. Do fenômeno aeroespacial extraordinário que assombrou o Pará e o Maranhão, de 1976 a 1978, restaram apenas depoimentos, desenhos, fotografias e fotogramas de qualidade duvidosa, além de notícias sensacionalistas.

Luz fotografada na Baía do Sol, em Mosqueiro, Pará, às 4h25 da madrugada de 29 de junho de 1978, por Virgílio Arantes de Mello (1935-1978).

Referências bibliográficas

COSTA, Heitor & OUTROS. Na rota das luzes. Belém: 27 jan. 1978. Fonte: https://canaljoaomarcelo.blogspot.com/2021/01/no-rastro-do-filme.html

GIESE, Daniel Rebisso. Vampiros extraterrestres na Amazônia. Belém: 1991.

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