Israel perdeu a guerra, mas não pode perder também a democracia

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Israel Defense Forces / Divulgação

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O governo de Israel não deveria ter declarado uma guerra convencional contra uma força terrorista logo após o atentado de 7 de outubro. Caiu numa armadilha que, talvez, num primeiro momento, não pudesse não ter caído. Mas, num segundo momento, insistir nesse caminho isolou Israel. 

Não resgatou os reféns e não pode vencer o Hamas. Essa guerra não pode ser vencida porque não se trata de matar todos os jihadistas do Hamas (o que é impossível: não se sabe quem são seus civis combatentes e seus líderes escaparão no Líbano, na Jordânia, no Iraque, na Síria, na Turquia, no Catar ou no Irã). Para o Hamas, não é guerra convencional: é terrorismo. Para o Hamas, não é guerra com objetivos militares no terreno local: é parte de uma grande netwar mundial promovida pelo eixo autocrático (Irã, Rússia, China, Coréia do Norte et coetera) para desacreditar e, depois, exterminar Israel e as democracias liberais.

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Não há negociação possível. O Hamas não quer negociar nada. Não quer nem a sobrevivência pessoal de seus militantes em Gaza. Pelo contrário, anseia pelo martírio do maior número possível de combatentes civis. A sua guerra (universal) é baseada nisso, não em conquistas militares no território local.

Dito isso, é preciso reconhecer que Israel está cometendo muitos erros, se isolando internacionalmente e colocando em risco a vida dos judeus em todo o mundo. O governo atual está esticando a guerra para se manter no poder. Enquanto isso, o antissemismo só cresce em todos os países.

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O anúncio recente, de uma autoridade israelense, de que a guerra vai durar mais sete meses, é uma insanidade. Mesmo que a guerra venha a durar sete anos, isso jamais deveria ter sido anunciado. Porque, ao ser anunciado, dá a impressão de que há um plano para o desfecho do conflito, quando está claro que não há. E passa a impressão (errada) de que Israel tem intenções exterministas em relação aos palestinos.

No curto prazo, não há solução possível a esta altura. Como distinguir, no teatro de operações de guerra em Gaza, um civil palestino combatente de um civil palestino não combatente? Dado que é quase impossível fazer isso, Israel deveria retirar suas tropas de Gaza. Ocupando o território só não haveria baixas civis (de não-combatentes e combatentes, pois o Hamas é civil) se as tropas de Israel entrassem armadas exclusivamente com cassetetes de borracha, spray de pimenta e tasers; ou seja, entrassem para morrer.

Claro que isso implicaria investir mais em sistemas de defesa e não ficar esperando os foguetes e mísseis do Hamas que não fossem interceptados caírem sobre as cidades israelenses. E reorganizar civil e militarmente todo o país em vez de esperar novas invasões e outros atos terroristas do Hamas (sob patrocínio do Irã).

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Se Netanyahu não tivesse estragado tudo com essa mania de declarar uma guerra convencional para liquidar o Hamas (e, para tanto, tendo que arrasar as localidades de Gaza, ainda que a letalidade colateral para civis seja menor do que a de muitas das guerras do século 21: o número de civis palestinos mortos não chega a 2% da população palestina da Faixa) a responsabilidade por isso, entretanto, ficaria claro para o mundo, seria a das grandes nações democráticas que não querem assumir os riscos e os custos de intervir no conflito.

E os que acham que Israel está entrando em Gaza para matar propositalmente civis com o fito de genocidar a população palestina ficaram falando sozinhos.

E Israel não se isolaria do mundo e não colocaria em situação de insegurança os judeus em todo planeta, dando pretexto para a explosão do antissemitismo. Talvez em outras circunstâncias (na ausência de uma guerra de destruição de Gaza) as nações democráticas do ocidente tivessem visto que não há solução endógena (ao Oriente Médio) no curto prazo para o conflito, a não ser a instalação temporária de um governo internacional em Gaza, com o fim da ditadura do Hamas (pois enquanto a ditadura do Hamas em Gaza não cair, não haverá solução no curto, médio e longo prazos). Mas, como sabemos, é muito improvável que alguma coisa parecida viesse ou venha a acontecer.

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Concluindo. Quem gosta do Hamas são os petistas e bolivarianistas. Quem gosta do Netanyahu são os bolsonaristas e trumpistas. Os democratas repudiam a ditadura de Gaza do grupo terrorista Hamas e também o governo populista-autoritário e supremacista de Netanyahu, mas apoiam e defendem a democracia israelense.

Sim, os democratas não devem abandonar a sociedade israelense, por mais que o governo Netanyahu seja abominável. Porque, fundamentalmente, democratas não defendem governos (todo governo é oligárquico) e sim modos-de-vida democráticos. A sociedade democrática israelense é liberal e pluralista, não educa seus filhos para serem mártires e nem quer impor tiranias no seu território e nos países vizinhos. Aliás, há tempos já está se manifestando, nas ruas e em todo lugar, pela queda do governo Bibi. Essa sociedade merece um mínimo de segurança e tranquilidade para que seus cidadãos possam viver suas vidas e desenvolver suas potencialidades. E mesmo que o governo atual venha a cair, isso não ocorrerá enquanto a ditadura do Hamas em Gaza permanecer atacando Israel e educando gerações de palestinos para o ódio aos judeus.

Abaixo a ditadura do Hamas em Gaza. Abaixo o governo autoritário de Netanyahu em Israel. Do ponto de vista político, Israel perdeu a guerra (essa guerra impossível que declarou, que não foi perdida em Gaza, mas no mundo). Não pode perder também a democracia.

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Augusto de Franco

Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem

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