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BH, o carnaval da alegria e do transtorno

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Carnaval de Belo Horizonte (foto:Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Comecemos nossa prosa de hoje falando da importância do carnaval de Belo Horizonte para a economia local e para a vida das pessoas.

Em números, registramos a exuberância. O carnaval de Belo Horizonte em 2024 foi um grande sucesso. Ele movimentou cerca de R$ 943 milhões e atraiu mais de 5,5 milhões de foliões, incluindo 262 mil turistas. A expectativa é que, em 2025, o carnaval gere cerca de R$ 1 bilhão na economia local, com aproximadamente 6 milhões de visitantes.

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São números que não permitem questionamentos quanto ao sucesso do evento. Porém, com o crescimento do carnaval em Belo Horizonte, tem se imposto sacrifício para muita gente. É chegada a hora de cobrar de quem organiza o carnaval uma verdadeira organização.

Convido vocês a um passeio pela Região Centro-Sul da cidade. Veremos um amontoado de grades colocadas na maioria dos prédios. E por que as grades são colocadas? Porque elas impedem que os jardins e passeios se transformem em banheiros públicos. Xixi e cocô sendo feitos em qualquer lugar. Rapidamente, alguns dirão: “Ah, mas eles estão protegendo seus patrimônios.” Sim, e pagando a conta.

Sabem quanto fica, em média, para cada condomínio colocar tais grades no período do carnaval? Porque as colocam agora por conta do pré-carnaval que está acontecendo.

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Quinze mil reais. Isso mesmo. É justo impor esse gasto aos proprietários de comércios e residências? A resposta é não, um sonoro não.

O que deveria fazer o Poder Público e os organizadores da festa?

Primeiro, uma maior e melhor distribuição dos banheiros químicos pela cidade. Se tivermos mais banheiros públicos e mais bem distribuídos, com certeza aqueles que têm educação farão uso deles.

A educação, porém, é outro problema.

Educar coletivamente nos tempos atuais é um desafio. A humanidade dos nossos tempos rejeita atos de educação porque educar significa interferência, autoridade, e as pessoas cada vez menos querem ser “invadidas” em seus direitos ou ter relações de autoridade. Portanto, educar é a tarefa mais complicada.

A menos complicada seria a instalação de um maior número de banheiros químicos e sua melhor localização.

Se pesquisarmos, saberemos que houve um incremento desses equipamentos de 2023 para 2024, da ordem de 40%. Só que, com esse aumento, a realidade se transformou?

Não. Então, senta que lá vem história.

Primeiro, os banheiros foram mal alocados porque estão concentrados em um só lugar. Se um folião está em um bloquinho na Rua Alagoas, quase esquina com a Avenida Cristóvão Colombo, e ele é acometido pela urgência — aquele “pipi maroto” —, terá que se deslocar até a Praça da Savassi.

Com certeza, o xixi saiu antes do destino. E por aí seguem outros exemplos.

Até aqui falamos dos banheiros químicos, mas a análise não para por aí.

O que fará a BHTrans para melhorar a circulação do trânsito na capital, principalmente na Região Centro-Sul e em alguns bairros onde acontece o carnaval?

Nada, absolutamente nada.

A BHTrans, na sua solene incompetência, afirma que apresentará as soluções de mobilidade para o carnaval.

Mas vamos a exemplos, e aqui citarei o ocorrido comigo no carnaval passado.

Em 2023, participei da cobertura da Rede 98 em um programa transmitido do P7 Criativo, na Praça 7. De lá, saí às 2 horas da tarde. Até as 19 horas, não tinha conseguido colocar meu carro na garagem do prédio onde moro, localizado na Rua Santa Rita Durão, na Savassi.

Não consegui acesso pela Avenida Brasil, não consegui cruzar a Cristóvão Colombo, não tive acesso pela Avenida Afonso Pena e nem pela Avenida Getúlio Vargas. Parei a seis quarteirões da minha casa e vim a pé.

Mudemos o exemplo para uma emergência. Um idoso, uma criança que tenha um problema de saúde e precise ser socorrido. Como fará? Qual é a solução que a BHTrans dá nesses casos?

Essa pergunta tem que ser feita sempre. Não podemos achar normal que, porque há carnaval na cidade, todos que queiram se movimentar — um direito inalienável — não consigam fazê-lo, já que não há um sistema de fluxo de trânsito estabelecido para isso.

E a BHTrans vai mentir novamente, dizendo que há um projeto para essa mobilidade. Sabe o que as pessoas que moram nos locais onde o carnaval acontece estão fazendo para garantir sua mobilidade, trabalhar ou atender suas necessidades particulares?

Reservando pousadas em Nova Lima, Itabirito e cidades próximas para poder voltar e trabalhar em Belo Horizonte.

A BHTrans está pouco se lixando. Ao final do bloco, eles vão embora. Dane-se o problema de quem está lá, porque o órgão responsável não restitui a circulação do trânsito.

Alguns dirão: “Mas a Avenida do Contorno está livre como corredor de trânsito para garantir acesso à Região Hospitalar.” Foi o que pensei.

Entrei na Contorno para tentar chegar à minha casa, mas não havia acesso para dentro da Avenida do Contorno que me permitisse chegar em casa.

É uma questão que tem que ser discutida com muita clareza. Senão, vamos ficar sempre dando a desculpa de que vai ser sempre assim, justificada pelo sucesso do carnaval.

Chegará a hora em que, não havendo essa conciliação de interesses, surgirá um movimento contrário.

Conversei com o presidente da CDL-BH, Marcelo Souza e Silva. Ele fez uma convocação para uma coletiva a fim de alertar sobre essas questões sob o ponto de vista dos comerciantes.

Nessa coletiva, ele vai apresentar os problemas apontados por representantes desse setor, que enfrentam dificuldades para abrir suas lojas, seja por questões de higiene, seja por mobilidade.

Mais uma vez, virão os contra-argumentos: “O comércio da cidade, com maior volume de circulação de dinheiro por conta do carnaval, sairá lucrando.”

De que adianta aumentar os lucros se os comerciantes não conseguem abrir as portas?

Assim fica fácil. Faço a festa, mas não organizo tudo. Só me preocupo com a festa. Quem tiver problema, que resolva com nosso Senhor Jesus Cristo, se ele estiver de plantão naquele dia. Porque, se não estiver…

Eu sei, são muitos os desafios para uma festa tão grande, que cresce exponencialmente.

Só que os organizadores do carnaval na cidade são remunerados para isso. A eles cabe essa tarefa.

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Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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