Recentemente saiu a notícia de que o fundo das telecomunicações vai liberar 15 bilhões para o setor com uma importante condição: recursos aplicados principalmente em produção com conteúdo nacional. É uma ideia que soa bem na teoria — estimular a indústria local, gerar empregos e fomentar fornecedores — mas quando olhamos de perto surgem vários riscos.
O modelo com conteúdo nacional impõe que equipamentos, softwares ou serviços utilizados pelas empresas de telecomunicações venham de fornecedores brasileiros ou que tenham significativa produção local. Isso pressiona a cadeia doméstica, mas também pode perpetuar ineficiências. Fornecedores protegidos podem não ter competitividade, escala de produção ou capacidade de inovar. Se não houver concorrência real, o resultado pode ser produto mais caro ou de qualidade inferior.
Outro problema é que esse tipo de exigência eleva custos para as empresas prestadoras. Com preços maiores e insumos nacionais — por conta da escala menor ou da falta de concorrência internacional —, acabam repassando esses custos ao consumidor final ou sacrificando margens. E, em mercados de telecomunicações, isso pode significar internet mais cara, cobertura mais lenta ou menos investimento em infraestrutura de longo prazo.
Também é preciso avaliar o impacto regulatório e a previsibilidade. Regras de conteúdo nacional fixas ou muito rígidas geram incerteza para investidores privados, que preferem ambientes com clareza sobre as exigências técnicas e possibilidade de competir com produtos importados. Quando os requisitos mudam abruptamente, empresas se adaptam lentamente ou deixam de investir.
Em economia, não existe alquimia. Exigir conteúdo nacional pode parecer um bônus patriótico, mas se for usado como máscara para protecionismo, acaba gerando altos preços, menor qualidade e menos inovação. O verdadeiro estímulo à indústria brasileira passa por oferecer incentivos, mas também por permitir competição, atrair investimento estrangeiro e focar em capacidade produtiva eficiente.