O governo anunciou um novo modelo de crédito imobiliário que amplia o uso da poupança como fonte de financiamento. A ideia é simples: liberar mais recursos dos bancos para emprestar, reduzir o compulsório e, com isso, estimular o crédito habitacional. Na prática, a proposta soa como um bom remédio para o setor — mas o problema é que a fórmula tem efeitos colaterais conhecidos.
O primeiro ponto é que a poupança está em extinção. O brasileiro migrou para investimentos com maior retorno, como CDBs e fundos. Usar cada vez mais a poupança como base para o crédito é insistir em um modelo que se sustenta em um ativo que encolhe ano após ano. É como tentar encher o tanque de um carro que já está com o reservatório furado.
Além disso, a redução do compulsório — ou seja, da parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a manter retida no Banco Central — aumenta a alavancagem do sistema financeiro. Isso pode até gerar crédito no curto prazo, mas também amplia o volume de moeda em circulação, alimentando pressões inflacionárias. E, em um cenário de juros ainda altos e inflação que apenas começa a se estabilizar, esse movimento é um risco desnecessário.
Outro ponto problemático é a ideia de limitar os juros dos financiamentos. Essa é uma medida que parece popular, mas distorce os sistemas de preços da economia. Juros não são apenas uma decisão política — são o reflexo do risco e do custo do dinheiro. Quando se impõe um teto artificial, o crédito pode até baratear no começo, mas logo desaparece, porque os bancos recuam diante da insegurança e do desequilíbrio financeiro.
Em economia, não existe alquimia. É impossível expandir crédito, reduzir compulsório e controlar juros ao mesmo tempo sem gerar distorções. Se queremos um mercado imobiliário forte, o caminho é o da previsibilidade e da confiança — não o da intervenção e do improviso. Sem sustentabilidade e sem base sólida de poupança, esse novo modelo tende a ser mais um ciclo curto: estímulo hoje, desequilíbrio amanhã. O crédito imobiliário precisa de estabilidade, não de atalhos.