No Visão Macro de hoje, vamos discutir um pouco mais sobre como os últimos dados em relação ao comprometimento de renda das famílias, assim como os níveis de inadimplência — que seguem em patamares recordes —, confrontam indicadores públicos aparentemente positivos, como a taxa de desemprego em mínima histórica de 5,6%.
É curioso observar esse otimismo diante da taxa de desemprego, mas que não se reflete em ganhos reais de renda. As famílias continuam, de forma inercial, se endividando apenas para pagar as contas. A grande problemática do Brasil sempre será a produtividade, e não os estímulos de consumo de curto prazo, que têm sido constantemente aplicados e, de maneira simbiótica, também refletem o aumento do crédito e do endividamento.
É importante colocar em pauta que dados como esses dizem muito mais sobre a vida real do que o vislumbre positivo das estatísticas públicas, que muitas vezes não retratam o dia a dia das famílias. Aqui vale aquela máxima: “juros reais interessam aos economistas; o que o cidadão quer saber é se consegue pagar as contas no fim do mês.”
O brasileiro vive de juros nominais — quer saber se a renda cobre as despesas e se a poupança ainda rende o suficiente para evitar novas dívidas. Sim, há avanços em algumas frentes, como uma certa convergência da inflação. Mas, se o nível geral de preços continua alto, não há como falar em melhora do comprometimento de renda ou da capacidade de poupança.
Esse é o grande gargalo: sem produtividade e sem política pública eficiente, não há crescimento sustentável. De novo: retórica ideológica não resolve problema econômico. Crescimento real e duradouro depende de alocação racional de capital, políticas de poupança e incentivos de longo prazo que gerem renda disponível de verdade para as famílias brasileiras.