Lula quer transformar mentiras em verdades

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O que Lula fez em 2024 foi assinar uma repactuação que já vinha sendo costurada entre os Ministérios Públicos Federal e Estaduais, os governos de Minas e do Espírito Santo e a Advocacia-Geral da União (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Por mais que repita com ênfase, em palanques e entrevistas, que ama Minas Gerais, o presidente Lula parece confundir afeto com marketing. Em sua mais recente tentativa de reescrever os fatos, afirmou ter sido ele quem fez o acordo de Mariana. A declaração é politicamente conveniente, mas factual e historicamente incorreta, além de desrespeitosa com a memória dos atingidos e com o esforço institucional de anos.

Vamos aos fatos, com nomes, datas e números.

O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, ocorreu em 5 de novembro de 2015, durante o governo Dilma Rousseff, correligionária de Lula. Na ocasião, Dilma, acompanhada de um “certo governador de Minas”, sobrevoou o local do desastre, ignorou os atingidos e correu para uma reunião com a diretoria da Samarco.

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Em janeiro de 2016, foi firmado o primeiro Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) entre o governo federal, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e as mineradoras responsáveis: Vale, Samarco e BHP. O acordo estipulava R$ 20 bilhões em reparações, valor criticado por sua insuficiência e pela ausência de participação das comunidades atingidas.

O que Lula fez em 2024 foi assinar uma repactuação que já vinha sendo costurada entre os Ministérios Públicos Federal e Estaduais, os governos de Minas e do Espírito Santo e a Advocacia-Geral da União. O novo acordo elevou o valor total para até R$ 132 bilhões, incluindo novas obrigações. Foi, sem dúvida, uma medida importante. Mas chamar isso de “criação” do acordo é tão honesto quanto reformar uma casa e dizer que a construiu.

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Mais grave do que a apropriação indevida da história foi o modelo da repactuação: negociado em Brasília, a portas fechadas, com pouca ou nenhuma escuta das comunidades atingidas, como denunciaram representantes de cidades como Naque, Governador Valadares e Barra Longa. A crítica é direta e justa: não se pode reconstruir a vida de alguém sem ouvi-lo. Mas o governo federal ainda parece preferir a lógica do “nós decidimos daqui, vocês agradecem daí”.

No fundo, essa disputa por paternidade revela uma lógica ultrapassada: a de que governar é fazer favores ao povo, quando deveria apenas cumprir obrigações constitucionais. Minas não precisa de padrinhos. Precisa de respeito. E o respeito começa pela verdade.

Lula faz campanha para Rodrigo Pacheco

Na mesma visita a Minas, Lula subiu em um palanque de cerimônia oficial, desta vez em Contagem, para declarar apoio explícito à candidatura do senador Rodrigo Pacheco ao governo do Estado. Onde está a, até então diligente, Justiça Eleitoral que não vê essa irregularidade?

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Quando Lula tenta se transformar em importante para Minas, estado que só passou a merecer sua atenção por motivos meramente eleitorais e de popularidade, e ainda por cima reescreve o passado usando os atingidos para capitalizar simpatia em palanque, ele despreza a alma do acordo que diz celebrar.

E quando transforma política pública em ato de campanha, transforma o sofrimento de Minas em capital eleitoral.

Minas quer menos discurso e mais escuta. Menos palco e mais presença. Porque a tragédia não é oportunidade política. É ferida aberta que exige verdade, justiça e reconstrução. Sem maquiagem.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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