Há prêmios que transcendem a cerimônia, a medalha e o discurso de agradecimento. Há prêmios que não são apenas reconhecimentos, mas alertas ao mundo, e o Nobel da Paz de 2025 concedido a Maria Corina Machado pertence a essa rara categoria. O Nobel 2025, não coroa apenas uma mulher venezuelana que ousou enfrentar um regime autoritário, ditatorial, que insiste em dizimar seu povo e que conta com o apoio vergonhoso do governo braisleiro, com palavras e coragem; ele celebra o espírito da democracia em sua forma mais pura, aquela que resiste mesmo quando o medo tenta se impor, aquela que insiste mesmo quando a esperança parece impossível.
Maria Corina é mais do que uma líder política. É um símbolo. E símbolos, quando verdadeiros, incomodam. Incomodam os tiranos que preferem o silêncio ao dissenso, incomodam as ideologias extremadas que veem no diálogo uma fraqueza e na convivência uma capitulação. Sua trajetória é uma sinfonia de teimosia democrática. Cassada, perseguida, proibida de disputar eleições e mesmo assim insistente, não pela glória pessoal, mas pela liberdade de um povo inteiro.
O anúncio de seu Nobel soou como música aos ouvidos dos que ainda acreditam que a política é a arte de construir pontes e não de erguer muros. E é revelador observar as reações a essa escolha. A Casa Branca, que queria Trump como escolhido, e Celso Amorim, ideólogo de Lula e que tem Maduro como amigo dileto, torcem o nariz, preferem dizer, e nisso concordam, que a decisão é política e não leva em consideração a paz. Maria Corina mostra que a democracia não precisa de tutores ideológicos, precisa de coragem.
É nesse contraste que o Nobel de Maria Corina ganha ainda mais força. Ele denuncia, com a delicadeza de uma honraria e a contundência de um tapa, a cegueira que assola parte da esquerda e da direita mundo afora. Uma cegueira que confunde resistência com provocação, liberdade com ameaça, política com guerra. As extremas, sejam elas vestidas de qualquer cor, compartilham o mesmo erro, esquecem-se de que política é a paz em construção, não a vitória sobre o inimigo.
Maria Corina nos lembra disso com cada palavra que disse ao desafiar o ditador facínora Nicolás Maduro, com cada gesto ao enfrentar a máquina estatal que tentou esmagá-la, com cada lágrima dos venezuelanos que continuam a vê-la como farol em meio ao apagão democrático. Seu Nobel não é apenas dela. É de cada cidadão que não se resigna diante da opressão, é de cada voz que se recusa a ser calada, é de cada voto que insiste em ser contado.
Ao premiar Maria Corina, o Comitê do Prêmio Nobel não homenageia apenas uma trajetória individual. Ele envia um recado inequívoco. A liberdade não é concessão de governos, é conquista de cidadãos. A paz não nasce do conformismo, mas da coragem. E a política, quando é verdadeira, não se curva às ideologias, serve, acima de tudo, à dignidade humana.
Talvez por isso as extremas tenham dificuldade em compreender a importância desse prêmio. Porque para elas, política é trincheira. Para Maria Corina, e para todos que ainda acreditam na democracia, política é a ponte. E é essa ponte, frágil, trabalhosa, essencial, que Corina nos convida a atravessar.
Hoje, a Venezuela volta a ocupar as manchetes não apenas por sua tragédia autoritária, mas por um gesto de esperança. Hoje, Maria Corina Machado se inscreve no panteão dos que entenderam que a liberdade vale mais do que a própria vida. E hoje, o mundo tem a chance de se lembrar que, mesmo nas noites mais escuras, há quem carregue a tocha acesa da democracia.