E o prefeito Álvaro Damião navegou na Lagoa da Pampulha e anunciou a volta dos passeios de barco para dezembro deste ano. É uma notícia que celebramos, mas que nos convida a uma reflexão mais profunda sobre os desafios de requalificar a Pampulha.
Afinal, a Pampulha é Patrimônio Cultural da Humanidade desde 2016. Ao unir arquitetura, paisagismo, artes plásticas, meio ambiente e urbanismo, o conjunto inaugurou uma nova direção na arquitetura moderna e consolidou um valor universal excepcional.
Mas ser patrimônio mundial não resolve todos os problemas de uma bacia hidrográfica complexa, que envolve vários municípios, diferentes níveis de governo, empresas, moradores e turistas. É uma equação de governança intermunicipal e multinível que desafia qualquer gestão.
Casos de sucesso no mundo mostram que não há milagres. O Rio Sena, em Paris, demandou décadas de investimentos e coordenação entre governos. O Rio Tâmisa, em Londres, levou mais de 60 anos para sair da condição de biologicamente morto e se tornar um ecossistema rico. E o Rio Jundiaí, aqui no Brasil, precisou de quatro décadas de trabalho contínuo para recuperar suas águas.
A Lagoa da Pampulha enfrenta desafios semelhantes — com particularidades próprias. Sua bacia hidrográfica não se limita a Belo Horizonte: envolve sete municípios da Região Metropolitana, o governo estadual, a concessionária de saneamento e milhares de moradores.
A volta dos barcos é simbólica e importante. Marca um compromisso público, mas também evidencia que, para sonharmos com uma lagoa limpa e viva, precisamos enfrentar questões estruturais: o tratamento de esgoto em toda a bacia, o controle da ocupação irregular, a gestão dos resíduos sólidos, o monitoramento da qualidade da água, a reforma do Museu de Arte e a requalificação dos espaços públicos.
Tudo isso exige ousadia política, planejamento técnico e, sobretudo, continuidade. Recuperar um ecossistema aquático não se faz em um ou dois mandatos. Só funciona se a população abraçar, cobrar e fiscalizar.
A Pampulha merece esse compromisso — não apenas por ser um cartão-postal, mas por ser símbolo do que Belo Horizonte pode sonhar e realizar. Eu quero não só navegar, mas também nadar na Pampulha. E sei que, para isso, precisamos de governança efetiva e compromissos de Estado, não apenas de governo.
Até o nosso próximo encontro. Porque a cidade que se move é a cidade que melhora. Um forte abraço.