No Visão Macro de hoje, vamos discutir um pouco mais o que queremos dizer quando falamos que, na economia, é preciso discutir o que é e não o que deveria ser.
Saiu um artigo muito interessante no Financial Times, há cerca de uma semana, assinado por Guilherme Tech, revisitando o conceito de “real economia”. Ele propõe o abandono da visão tradicional e racional dos agentes econômicos — aquela que assume que as decisões são tomadas com base, simplesmente, em princípios neoliberais e que os mercados guiariam a economia ao longo do tempo.
Pelo contrário: hoje prevalece a visão de que os Estados utilizam tarifas, controles de investimento, subsídios e políticas industriais para proteger seus interesses estratégicos. Ou seja, não se trata apenas da racionalidade dos ganhos econômicos, mas da racionalidade dos interesses estratégicos.
É importante destacar que a ideia de mercados completamente livres sempre foi, em alguma medida, ilusória. Mesmo sob a hegemonia do pensamento neoliberal, países como a China já praticavam políticas claramente mercantilistas, incentivando o crescimento por meio das exportações e valorizando o superávit na balança comercial ao longo do tempo.
Curiosamente, a política industrial tem voltado com força em várias economias. O caso mais emblemático, neste momento, são os próprios Estados Unidos. Mesmo que o governo anterior, de Joe Biden, já tivesse uma agenda com esse posicionamento, é evidente que a gestão de Donald Trump também reforça esse viés, com economistas alinhados de forma ainda mais intensa.
Talvez estejamos diante de uma nova fase global, na qual as fronteiras entre economia e diplomacia se tornam cada vez mais tênues. Esse é um ponto particularmente relevante para o Brasil ao pensar sua estratégia diante das tarifas que vêm sendo impostas pelos Estados Unidos.
Mais do que isso, é essencial discutir nossa capacidade de reagir a essas tarifas — não apenas nos aliando novamente a países como a China, aumentando nossa dependência, mas também abrindo de fato a economia com responsabilidade.