O caso do vereador Lucas Ganem não é um deslize, não é um mal-entendido, não é um problema contábil e muito menos um detalhe burocrático. É fraude eleitoral escancarada, e uma fraude que desmonta por completo a narrativa construída por um candidato que chegou a Belo Horizonte sem história, sem vínculo, sem endereço e sem qualquer relação com a cidade que agora tenta representar.
Ganem é o retrato mais evidente da degradação da política municipal pela lógica dos influenciadores oportunistas. Um quadro importado de São Paulo, sem raízes em BH, que se aproveitou da bolha digital da causa animal para surfar no voto alheio e se instalar em uma Câmara onde nunca deveria ter sentado.
Toda a vida de Ganem, nascimento, formação, atuação política, redes de influência, é paulistana. Seu histórico em Indaiatuba é público e documentado. Seu vínculo com BH, não. Porque ele simplesmente não tinha nenhum.
Antes de 2024, não morava em BH, não trabalhava em BH, não tinha contas de serviço em BH, não tinha atividades comunitárias em BH, não tinha laços familiares em BH. A única coisa que ele tinha era interesse eleitoral.
A transferência de domicílio como manobra
Fevereiro de 2024 marca o início da farsa: Ganem transfere o domicílio eleitoral para Belo Horizonte. Uma transferência sem lastro, sustentada por um endereço fantasma e por uma história de fachada.
Não havia vínculos sociais, profissionais ou pessoais. Era uma mudança de papel, não de vida.
Tudo na campanha de Ganem tinha cheiro e CPF paulistas: Os fornecedores, a equipe, a estrutura e até a linguagem utilizada, vinham de São Paulo.
Belo Horizonte virou cenário, não cidade. Ganem entrou como candidato sem ter pisado como cidadão. Já no início de 2025, eleito e empossado, o desconforto que apresentava no desempenho do seu mandato era enorme.era unânime: Desconhecia, e ainda desconhece a cidade, não dominava e nem domina temas locais, circulava e ainda caminha isolado pelos corredores na Câmara, e é tratado como “forasteiro”.
O inquérito da Polícia Federal desmontou a estratégia de forma categórica. Não há indício de nenhum consumo básico em BH, não apresenta nenhum documento como residente, não deixa nenhum registro de vida cotidiana, o endereço usado na Justiça é falso, A moradora da casa que ele disse ser sua residência, e que mora no endereço há dez anos, nunca ouviu falar dele, e afirmou que ele nunca residiu ali. Para fechar a investigação há a conclusão de que que sua vida profissional seguiu ativa em São Paulo durante o processo eleitoral. Ganem não estava em BH, nem no passado, nem no presente, nem no período da eleição.
O Ministério Público fecha o cerco
No último dia 23 de novembro, o Ministério Público Eleitoral publicou parecer definitivo recomendando a cassação do mandato. Não há ambiguidades no texto. O MP afirma que Ganem não comprovou nenhum vínculo real com BH, manteve residência e atividade em SP, fraudou o domicílio eleitoral, utilizou informação falsa para concorrer, violou a lisura do pleito. É o reconhecimento institucional da fraude.
Ganem é a face mais recente — e talvez mais explícita — de um fenômeno que ameaça as democracias municipais: a invasão dos candidatos-influencers, que tratam cidades como vitrines e eleitores como seguidores.
A lógica é simples e destrutiva: muito engajamento, zero vínculo, muita exposição, zero envolvimento com a comunidade, muito marketing, e…zero representatividade.
A política vira palco. O mandato vira produto. O eleitor vira público. O município vira plataforma.
Cassar o mandato de Lucas Ganem não será um gesto de severidade excessiva. Será um recado claro, firme e necessário: Belo Horizonte não aceita representante de aluguel, e domicílio eleitoral não é fantasia.
A cidade precisa de vereadores que vivam a realidade que legislam, não de aventureiros digitais que desembarquem apenas para transformar o município em trampolim.
A cassação não é o fim de uma história. É o restabelecimento da verdade, e o mínimo respeito ao eleitor mineiro.
