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O senador Rodrigo Pacheco
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

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A Operação Rejeito, deflagrada na semana passada pela Polícia Federal em Minas Gerais, mergulhou fundo no submundo das licenças ambientais fraudulentas, contratos de fachada e propinas milionárias pagas para beneficiar mineradoras. O nome da operação não poderia ser mais sugestivo: o rejeito, resíduo da mineração que devasta rios e terras, agora também se aplica ao modo como a corrupção escorre por frestas do poder público. No centro do escândalo, servidores estaduais, políticos regionais e empresários. 

E, nas margens, paira a sombra de um nome que até aqui não figura como investigado: o senador (PSD/MG) Rodrigo Pacheco.

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O fio das conexões

A PF estima em R$1,5 bilhão o valor em bens bloqueados dos envolvidos. Entre os presos, destaca-se Felipe Lombardi, apontado como operador financeiro do esquema. Lombardi não é um desconhecido, entre 2019 e 2021, trabalhou no gabinete de Pacheco no Senado. A investigação sustenta que ele seria o “homem da mala”, responsável por movimentações de recursos e entregas em espécie.

Outro elo que acende o alerta é o ex-deputado estadual João Alberto Lages, acusado de articular o esquema. Lages tem uma relação antiga com Pacheco: em 2014, fizeram dobradinha eleitoral. Mais do que isso, Pacheco declarou à Justiça Eleitoral ter doado R$67 mil para a campanha de Lages, valor que o tornou o maior doador declarado daquele pleito.

Essas conexões não são ilegais por si só. Mas, em qualquer investigação desse porte, laços políticos e financeiros são peças-chave para compreender a arquitetura de influência e poder.

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Rodrigo Pacheco, por sua vez, tenta se distanciar das suspeitas. Disse que conheceu Lombardi justamente por meio de João Alberto Lages, confirmou que ele trabalhou em sua equipe, mas ressaltou que não tinha conhecimento sobre suas atividades privadas. E fez questão de sublinhar que ele, Pacheco, não é investigado pela Operação Rejeito.

É um dado factual incontornável: a Polícia Federal não incluiu o nome do senador entre os alvos da operação. Nenhum auto, nenhum mandado, nenhuma medida cautelar até agora cita Pacheco como investigado.

Mas o silêncio em torno do caso deixa perguntas inevitáveis:

. Como alguém tão próximo, como Lombardi, pôde operar um esquema bilionário sem levantar suspeitas dentro do gabinete do presidente do Senado?
. Qual o peso político da relação histórica com João Alberto Lages, agora acusado de articular as fraudes?
. Até que ponto essas conexões são meramente circunstanciais ou revelam uma rede de poder que a investigação ainda não alcançou?

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Essas perguntas ecoam especialmente num momento em que o Senado se apresenta como guardião da estabilidade institucional. O contraste entre a imagem pública do senador e a presença de ex-assessores e aliados no epicentro da maior operação contra fraudes na mineração de Minas Gerais é, no mínimo, desconfortável.

Não se trata de condenar sem provas. Pelo contrário: a prudência exige sublinhar que Rodrigo Pacheco não é alvo formal da Operação Rejeito. Mas o jornalismo investigativo existe para iluminar as zonas de sombra, e, neste caso, elas são muito aparentes.

As conexões políticas, os vínculos de confiança, as doações e os cargos ocupados não podem ser ignorados. O que hoje é apenas proximidade circunstancial pode se revelar engrenagem essencial de um esquema maior. Ou pode se dissipar como coincidência infeliz.

Enquanto a PF avança nas apurações, cabe à sociedade cobrar respostas. Porque, quando o rejeito da mineração contamina rios, o dano é visível e imediato. Mas quando o rejeito da política escorre para dentro das instituições, a contaminação é mais sutil, e pode corroer silenciosamente a confiança que sustenta a democracia.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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