Rotativo em BH: multar é mais fácil do que resolver

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Amira Hissa / PBH

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Belo Horizonte tem 23.214 vagas físicas de estacionamento rotativo, distribuídas em 882 quarteirões. Respeitando os limites de tempo, elas se convertem em 102.842 oportunidades de estacionamento, uma suposta “democratização” do espaço público. Mas democratizar tem preço, R$4,95 por crédito digital.

Agora, um novo capítulo dessa história, um convênio publicado no Diário Oficial do Município autoriza a Guarda Civil Municipal a fiscalizar, multar e controlar o uso dessas vagas. O acordo entre a BHTrans e a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção vai custar R$2,8 milhões, e deslocará 70 agentes diariamente, das 6h30 às 20h, para caçar infratores de disco azul. Aos fins de semana e feriados, serão 35 agentes até o horário de almoço.

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O discurso oficial é nobre, “democratizar o uso do espaço público”. No asfalto, porém, a realidade é outra. BH sofre com congestionamentos crônicos, transporte coletivo caro e pouco confiável e escassez de estacionamentos regulares. Em vez de atacar a raiz do problema, a prefeitura aposta na velha fórmula: ampliar a mão pesada da multa. É o atalho de sempre, arrecadar primeiro, resolver depois, ou infelizmente nunca.

E o caixa agradece. Em 2024, as multas de trânsito renderam R$99,4 milhões líquidos aos cofres da PBH. Só nos dois primeiros meses de 2025, já foram R$30 milhões, um recorde que deveria acender a sirene da mobilidade. Enquanto isso, o transporte coletivo sangra, o sistema de ônibus transporta 1,4 milhão de passageiros por dia, operado por quase 300 linhas e 2.874 veículos. Nos horários de pico, a velocidade média despenca para 18 km/h no hipercentro e 8 km/h nas áreas mais saturadas. Duas viagens diárias podem consumir 22% do salário mínimo de quem depende do serviço.

Há ainda o detalhe incômodo: os guardas receberão treinamento especial da BHTrans para atuar como agentes de trânsito. Na teoria, é otimizar recursos; na prática, é deslocar a Guarda de sua função principal, segurança e prevenção, para caçar quem não pagou rotativo ou estourou o tempo. Em uma cidade onde furtos e assaltos preocupam diariamente, essa inversão de prioridades é, no mínimo, descompassada.

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Sim, existem motoristas que abusam e travam vagas o dia inteiro. Mas usar isso como justificativa para reforçar a máquina de autuação é fácil demais. Difícil, e necessário, seria ampliar vagas regulamentadas, e investir pesado em transporte público eficiente, integrado e acessível.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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