A infame cobertura do segundo turno, onde o centro não existe

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Lucas Rage / Rede 98

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A derrota do PT e do PSOL nas eleições municipais de 2024, tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno, subiu à cabeça dos jornalistas chapa-branca. Ontem, em vários canais de TV, transformaram a eleição num embate entre direita e extrema-direita. Para esse tipo de jornalismo, não existem mais candidatos de centro. Todo centro virou “centrão”, logo, de direita. Esse jornalismo partidarizado repete, repete e repete que Bolsonaro perdeu, mas não diz uma palavra sobre Lula. A “lógica” é a seguinte: não sendo da esquerda petista ou psolista, então é de direita ou extrema-direita. É contra o progresso porque não é “progressista”.

Certo jornalismo televisivo teve a coragem de fazer o que nem os dirigentes do PT têm. Pelo tempo dedicado na cobertura, Fortaleza foi tratada como a cidade mais importante do país (única capital em que o PT venceu, por menos de 1% dos votos) e ainda celebrou o crescimento de 100% do PT – já que em 2020 o partido não venceu em nenhuma capital. Teve até o desplante de dizer que Lula foi vitorioso nas urnas pois os candidatos que venceram são de partidos que compõem a sua base no Congresso…

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Engraçado, mas não é para rir. Porque é infame!

Ficou claro o vezo da análise. Os jornalistas chapa-branca analisam todos os eventos como um embate entre esquerda e direita. Mas que esquerda temos no Brasil? A esquerda lulopetista é uma esquerda democrática como a de Boric, do Chile? Não! É a esquerda populista que reconhece a eleição fraudulenta de Maduro, diz que o Israel é genocida, vê o grupo terrorista Hamas como uma força de libertação, apoia Putin e afirma que Zelensky é nazista.

Por isso, para a democracia, o acontecimento mais importante do segundo turno foi a derrota de Boulos no município de São Paulo, apesar de o PT estar no governo federal e de Lula e sua primeira-dama terem investido, com golpes finais abaixo da cintura, contra Ricardo Nunes. E o fato de Boulos ter perdido em quase todas as regiões (só venceu em 3 das 57 zonas eleitorais) foi indicativo de que há uma rejeição ao tipo de liderança que ele queria consolidar na cidade.

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Mas não conseguiu.Boulos perdeu até para a abstenção em São Paulo. “É o antipetismo” – gritam os jornalistas chapa-branca (pois Boulos é um submarino do PT no PSOL e os eleitores percebem isso). Curioso que ninguém constata o óbvio: que só há antipetismo porque há petismo. E o que é o petismo?

Petismo é um comportamento político dito de esquerda. E é bom repetir que não se trata de uma esquerda democrática e sim de uma esquerda populista que não reconhece a vitória da oposição venezuelana (roubada pelo ditador Maduro), não move uma palha para apoiar a resistência ucraniana à invasão militar da ditadura neoczarista de Putin, apoia a guerra do Irã para destruir a democracia de Israel (uma ilha de liberdade cercada por quinze autocracias do Oriente Médio), aplaude o alinhamento do país ao cafofo de ditaduras chamado BRICS (uma articulação anti-OTAN e anti-UE disfarçada de bloco econômico) e ao eixo autocrático (Rússia, China, Irã etc.) contra as democracias liberais.

Mas tem mais. O lulopetismo é uma esquerda estatista, contra a autonomia do banco central e das agências reguladoras, contra uma reforma administrativa que viabilize corte de gastos e contra, portanto, o equilíbrio fiscal, contra as privatizações, inclinada ao uso político dos bancos públicos, contrária à lei das estatais, a favor da escolha governamental de “complexos industriais estratégicos” para privilegiar investimentos públicos, espalhadora da falsa narrativa de que o mensalão, o petrolão, o impeachment de Dilma e a prisão de Lula fazem parte de um mesmo “projeto articulado de fora”, de um golpe das elites, apoiadas pela CIA e pelo FBI, para destruir a Petrobrás e as empreiteiras, tomar o pré-sal e tirar o Lula da eleição de 2018.

Essa é a esquerda lulopetista. A esquerda que foi fragorosamente derrotada nas eleições municipais de 2024.

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Mas os partidarizados não se abalam com nada isso, sinal dos tempos degenerados em que vivemos no Brasil, onde todo mundo quer atuar como partido sem ser partido. O lavajatismo se perdeu ao atuar como um partido dos procuradores. O STF decaiu ao querer atuar como um partido do judiciário. E certo canal de TV a cabo está atuando abertamente como uma “tendência externa” do PT e uma ASCOM de Lula.

Parece claro que isso não irá parar em bom lugar.

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Augusto de Franco

Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem

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