Parei para pensar. Um humorista é condenado por contar piadas, sim, piadas. Parece inacreditável, mas é exatamente isso que está na sentença contra Léo Lins. Enquanto isso, quem saqueia o país fica impune, segue livre, leve e solto. Já viu esse filme?
Pode parecer discurso gasto, lugar comum, mas o ponto aqui não é relativizar o que Léo Lins disse, e sim discutir o critério. Porque, se a régua moral da sociedade agora é a do “vale ou não vale”, conforme a plateia, então temos um problema muito maior do que uma piada infeliz: temos censura com endereço, hora marcada e CPF do réu.
Os mesmos que erguem faixas contra o humorista são os que aplaudem espetáculos performáticos recheados de cenas de nudez explícita, muitas vezes com financiamento público. E até aí tudo bem: porque arte é liberdade. Mas por que essa mesma liberdade não vale para o humor? A resposta, no fundo, é assustadora: porque não gostam do que ele diz. Ora, mas liberdade não é exatamente isso, o direito de dizer o que o outro não quer ouvir?
A desculpa é que essas peças, essas performances, são feitas em ambientes fechados. Mas os shows de comédia também. Vai quem quer, compra ingresso quem se dispõe. A diferença está no alvo da piada e no gosto da patrulha do dia.
Quando a Justiça entra no palco para punir o conteúdo de um espetáculo artístico, por mais ofensivo que ele seja, abre-se um precedente perigoso: o de criminalizar o pensamento.
Piada ruim se combate com vaia. Discurso que incomoda se enfrenta com argumento, não com o Código Penal. A relativização da censura é um atalho para o autoritarismo de toga ou de rede social. E, só para pensar: quem hoje vibra com a mordaça no humorista pode ser o próximo a descobrir que o silêncio é um péssimo espetáculo.