A mistura de política com economia, com características de ameaça e interferência nos processos da justiça brasileira, descaracterizam a intenção e a ação protecionista de Donald Trump. Quanto o presidente americano, em nome da democracia, ignora as diferenças e as características nacionais, faz com que sua defesa da democracia se arraste para pendores autocráticos.
Temos sim, um STF agindo de maneira autoritária. Temos sim, a necessidade de uma ação do Senado para uma nova definição de atribuições e processos da Suprema Corte Brasileira, mas a defesa de Bolsonaro cabe a seus advogados, e o julgamento ao STF.
Trump subiu as tarifas em 50% contra produtos brasileiros, e isso dói, principalmente em quem produz aqui e já enfrenta juros altos, infraestrutura ruim e um governo que promete muito e entrega pouco. Enquanto isso, Lula preferiu soltar um post no X,com a promessa de “responder à luz da Lei de Reciprocidade Econômica”.
O problema é que a Lei de Reciprocidade Econômica não é feitiçaria. É coragem. Ela existe, sim: se um país aplica barreiras comerciais unilaterais contra o Brasil, podemos retaliar com medidas equivalentes. Mas sabe quando o Brasil usou isso de verdade? Quase nunca.
Uma diplomacia errática
A diplomacia brasileira muitas vezes significa engolir seco e esperar passar. Enquanto isso, Trump protege seus fazendeiros, suas siderúrgicas, seus empregos, usando tarifas como espada para manter o jogo em seu favor. O Brasil, que poderia retaliar de forma cirúrgica em produtos americanos sensíveis para abrir espaço à negociação, prefere se agarrar ao moralismo retórico em redes sociais.
E olha que Lula até tinha um trunfo: os números estão a nosso favor. Os próprios dados americanos mostram que os EUA têm superávit de US$410 bilhões no comércio com o Brasil em 15 anos. Se é guerra comercial que Trump quer, ele pode sair perdendo.
Enquanto a diplomacia brasileira se recusa a usar a Lei de Reciprocidade com firmeza, quem paga a conta é o produtor brasileiro, que é o exportador de carne, de aço, de celulose, que perde mercado enquanto os concorrentes ocupam espaço. Quem paga a conta é o brasileiro comum, que sente no emprego e no bolso a fragilidade de um país que se acostumou a preferir o tapinha nas costas à mão firme no volante.
A diplomacia brasileira precisa entender que respeito se constrói com postura. A aproximação e o alinhamento diplomático do Brasil com autocracias e teocracias não passa despercebido ao mundo livre e democrático. Reciprocidade não é guerra, é equilíbrio. É proteger os nossos produtores de abusos externos. É usar os mecanismos legais que temos para negociar em pé de igualdade.
Lula gosta de dizer que não aceita tutela de ninguém. Mas fica difícil acreditar quando a única reação diante de tarifas de 50% é um post no X, sem cronograma, sem plano, sem retaliação clara. Sem reciprocidade, só sobra retórica.
O Brasil não precisa de valentia de rede social. Precisa de diplomacia pragmática, firme e real. Porque, no fim do dia, quando Trump late, o Brasil precisa mostrar que também sabe morder.