Hoje nós vamos nos aprofundar no debate sobre o futuro da nossa metrópole a partir de um conceito transformador: a cidade de 15 minutos.
A ideia parece simples: acessar necessidades cotidianas como trabalho, saúde, educação e lazer a uma curta distância de casa — a pé, de bicicleta, de ônibus ou mesmo de metrô. Sabemos que, atualmente, a distância é medida em tempo, e não mais em quilômetros. A cidade de 15 minutos representa justamente essa mudança de rota. É uma espécie de revolução da proximidade.
O objetivo é quebrar a lógica de uma cidade espraiada, que nos obriga a longos e poluentes deslocamentos de carro, moto ou em um transporte público sobrecarregado.
Cada bairro deve funcionar como uma pequena cidade, atendendo às necessidades essenciais — morar, trabalhar, cuidar da saúde, aprender, se divertir — por meio de uma caminhada, pedalada ou transporte coletivo.
Não seria incrível consumir apenas 15 ou 20 minutos com esses deslocamentos diários?
Mas, para entender a relevância e o impacto desse modelo na nossa qualidade de vida, precisamos enfrentar dois dos maiores desafios urbanos:
1. A fragilidade do transporte coletivo
Afinal, gastamos em média 1 hora no deslocamento casa-trabalho. E, para muitas famílias, essa jornada pode ultrapassar 4 horas por dia.
2. A moradia inadequada
Uma pesquisa da Fundação João Pinheiro revelou um dado alarmante: a Região Metropolitana de BH concentra mais de meio milhão de domicílios inadequados. Isso significa moradias com deficiências estruturais, sem infraestrutura básica, sem saneamento, coleta de lixo, ou fornecimento digno de energia — além de estarem localizadas em áreas sem acesso a serviços públicos ou oportunidades.
Esses dois problemas — um transporte que não funciona e moradias sem dignidade — mostram por que é urgente repensar a cidade. É aqui que o conceito da cidade de 15 minutos oferece um caminho.
O principal desafio para sua implementação é a desigualdade territorial. Por isso, a transformação precisa ser justa. Essa é a chance de Belo Horizonte construir uma cidade mais resiliente — e, sem dúvida, mais humana.
E quais seriam as estratégias?
- Integrar moradia e mobilidade: Não adianta construir novas moradias populares em locais isolados, sem acesso a serviços e oportunidades. O planejamento urbano deve priorizar habitação em áreas com infraestrutura, trabalho e renda.
- Fortalecer centralidades nos bairros: Investir em infraestrutura local, lazer, segurança e incentivar a instalação de comércios e serviços perto de onde as pessoas já vivem. Isso reduz a necessidade de deslocamentos longos, especialmente para o hipercentro.
- Priorizar o transporte ativo e coletivo: É preciso valorizar pedestres, ciclistas e o transporte público. Infelizmente, os investimentos públicos não têm seguido essa direção. Mas isso precisa mudar. Precisamos investir na cidade para as pessoas.
Repensar a cidade a partir do conceito dos 15 minutos é também uma forma de atacar a raiz dos nossos problemas urbanos.