Começou. O tarifaço anunciado por Donald Trump virou realidade, e o Brasil desperta para um novo cenário comercial em que seus produtos, especialmente os agrícolas e siderúrgicos, chegam aos Estados Unidos mais caros, menos competitivos e, sejamos francos, politicamente marcados. O governo brasileiro, por sua vez, segue em ritmo de carnaval fora de época com muito barulho e pouca direção.
O presidente Lula reagiu como de costume. Fez seus discursos inflamados, mostrou sua indignação seletiva e performática, e uma retórica nacionalista que ecoa bem nos palanques, mas afunda em silêncio nos bastidores diplomáticos. Falou grosso para dentro, mas até agora não se ouviu uma frase firme e concreta em direção à Casa Branca. Nenhuma nota oficial do Itamaraty, nenhum pedido de arbitragem internacional. Parece que o governo ainda não entendeu a gravidade do que está em jogo, ou finge que não entendeu, para manter o script do “nós contra eles”.
O tarifaço de Trump tem tons de represália política travestida de defesa econômica. Usa o argumento da segurança nacional para punir o Brasil pelo que ele entende como violações à liberdade de expressão e à propriedade intelectual. Na prática, é um movimento que combina populismo comercial com cálculo eleitoral. E por mais bizarro que pareça, há método no caos. A sinalização é clara, aliados de Lula estão na mira, e a exportação brasileira está no prejuízo.
Os impactos econômicos não tardarão. Produtores de aço, celulose, carnes e café já recalculam contratos e revisam projeções. A tensão no setor exportador é real. A queda da competitividade brasileira nos Estados Unidos pode abrir espaço para concorrentes como Argentina, Austrália e até países asiáticos com custo logístico menor. Isso significa menos receita em dólar, menos empregos no campo e na indústria, e mais pressão sobre a balança comercial num momento em que o Brasil já cambaleia entre juros altos e crescimento modesto.
Enquanto isso, o governo acena com generalidades. Fala em soberania, em injustiça histórica, em imperialismo. Mas não age. E quando o governo não age, o mercado pune. É assim que funciona. A omissão custa caro. E não há bravata que compense um frete encarecido por 40% de imposto.
Mais uma vez, o Brasil se vê encurralado entre o discurso político e a realidade econômica. Entre um presidente que prefere o palanque à diplomacia e um Congresso que não sabe muito bem como reagir a um conflito internacional. O resultado é previsível, perdemos mercados, perdemos tempo e, mais uma vez, quem paga a conta é o brasileiro.
Se há uma lição neste primeiro dia de tarifaço é que, em política externa, improviso e retórica não bastam. É preciso estratégia, articulação e coragem. E coragem, neste governo, parece estar em falta, pelo menos quando o assunto não é atacar a imprensa ou rebater adversários no X.