No Visão Macro de hoje, vamos tratar de um tema relevante sob a ótica atual das problemáticas do sistema bancário: o caso do Banco Master e do BRB, e a intervenção do Banco Central ao negar a operação de compra.
O primeiro ponto é separar emoção de razão. Todo processo bancário é baseado na intermediação financeira: poupadores de um lado, tomadores de crédito do outro. O banco é apenas o intermediário. O passivo do banco – ou seja, suas obrigações – é basicamente o dinheiro dos correntistas, uma obrigação concreta, atrelada ao volume de captação. Quando um banco cresce rápido demais oferecendo taxas altas, o risco de desequilíbrio aumenta. É justamente o que estamos observando nesse caso.
No ativo, estão os empréstimos e títulos mantidos pela instituição. O problema surge quando há descasamento entre ativos e passivos: de um lado, captação cara e atrelada ao CDI; do outro, aplicações em ativos de maior risco, baixa liquidez ou alta volatilidade. O crescimento acelerado sem prudência leva ao cenário de instabilidade.
Do ponto de vista regulatório, o Banco Central precisa avaliar os incentivos. Aprovar uma operação nessas condições poderia reforçar um risco moral perverso: a mensagem de que instituições podem adotar práticas arriscadas porque no fim alguém vai salvá-las. Esse é um precedente ruim para o sistema como um todo.
O impacto maior recai sobre fundos de pensão e investidores institucionais que compraram papéis de maior risco, como letras financeiras, sem a proteção plena do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). É aqui que mora um ponto crítico: o FGC não deve distorcer a percepção de risco. Quem poupa precisa olhar a qualidade do ativo, e não confiar apenas na “proteção” formal.
O FGC é uma ferramenta importante para dar estabilidade e reduzir spreads bancários. Mas, se usado como muleta para decisões ruins, cria incentivos equivocados. Em resumo: um CDB com cobertura do FGC não é sinônimo de segurança absoluta. A qualidade do emissor continua sendo determinante.
O caso Banco Master-BRB deixa uma lição clara: em tempos de instabilidade, é preciso muito mais cuidado ao avaliar instituições financeiras. O papel do regulador é conter riscos sistêmicos, mas o papel do investidor é analisar os ativos com critério, e não se deixar enganar por uma falsa sensação de proteção.