A Aneel confirmou que convocará uma reunião para o dia 19 para tratar de um risco que parecia distante, mas já está presente: risco de apagão por conta do elevado crescimento da geração solar distribuída (GD). A geração fotovoltaica, incentivada por subsídios, avançou tanto que, em horário de sol intenso, quase 40% da carga do país veio dessa fonte e isso já exigiu medidas emergenciais no sistema para evitar sobrecarga.
A geração distribuída foi idealizada para atender residências, pequenos comércios ou estabelecimentos rurais, oferecendo alternativa limpa e descentralizada de energia. Mas seu uso se expandiu rápido demais. Hoje há mais de 43 GW de capacidade instalada nessa modalidade, 95% deles solares e muitos empreendimentos usando painéis em larga escala — fazendas, condomínios solares e assinaturas de energia solar.
Esse crescimento imenso expôs fragilidades. A energia gerada dessa forma não está no planejamento setorial e não pode ser controlada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Isso significa que, quando a produção solar sobe muito, o sistema sofre. Fontes tradicionais precisam ser desligadas, há corte em geradores para equilibrar a tensão e manter a rede estável. É um risco real para a confiabilidade e para evitar apagões.
Um conceito técnico para entender isso é a curva do pato. É quando a produção solar se eleva bastante durante o dia e, justo ao amanhecer ou ao entardecer, exige geração flexível adicional para suprir a queda rápida da energia solar. Isso significa mais custos, porque é preciso manter usinas térmicas ou hidrelétricas em prontidão, mesmo sem estarem gerando durante as horas de maior sol. Em outras palavras, o sistema paga para ter um backup ocioso e esse custo, no fim, recai sobre quem paga a conta de luz: o consumidor final.
Adicionalmente, há os subsídios cruzados. Quem investe em GD recebe incentivos, mas os custos de manter a infraestrutura, backup, regulação ou mesmo compensações acabam sendo repassados a quem não participa desse modelo, que muitas vezes são consumidores mais pobres do mercado cativo.
Em economia, não existe alquimia. Não basta desejar energia renovável barata ou licenças soltas para instalar painéis solares. Os fundamentos, como planejamento, regulação e responsabilidade pelos custos, precisam estar claros, caso contrário, o que parecia solução vira fonte de instabilidade, apagões e tarifas mais altas para todos.