Um fóssil encontrado há mais de 30 anos na China pode reescrever parte da história da evolução humana. Antes associado ao Homo erectus, o crânio pré-histórico, agora reavaliado, é apontado como parte de uma linhagem próxima aos Denisovanos, ancestrais “enigmáticos” que viveram na Ásia e interagiram com o Homo sapiens.
Batizado de Yunxian 2, o fóssil tem, segundo pesquisa publicada na revista Science nesta quinta-feira (25/9), entre 940 mil e 1,1 milhão de anos e pertenceu a um homem de 30 a 40 anos. Responsável pelo estudo, o paleoantropólogo Xijun Ni, da Universidade Fudan, acredita que o exemplar pode ser o mais antigo representante já identificado de uma linha evolutiva que inclui os Denisovanos.
A análise mostrou que o crânio apresenta traços distintos: palato amplo e robusto, maçãs do rosto baixas e planas, parte posterior da cabeça expandida e características específicas na região dos ouvidos. Esses elementos o diferenciam do Homo erectus e o aproximam de outras espécies asiáticas do gênero Homo.
Relevância
A descoberta reforça a hipótese de que a evolução humana foi mais complexa do que se pensava. Segundo os cientistas, há cerca de 1 milhão de anos já existiam cinco grandes linhagens de hominíneos: os ancestrais do Homo sapiens; os Denisovanos e Homo longi; os neandertais (Homo neanderthalensis); o Homo heidelbergensis; e o Homo erectus. A separação entre esses grupos teria ocorrido antes do que indicavam estimativas anteriores.
Os Denisovanos foram identificados apenas em 2010, a partir de fósseis encontrados na caverna Denisova, na Sibéria. Estudos genéticos comprovaram que eles se misturaram tanto com os neandertais quanto com os Homo sapiens. Hoje, populações da Ásia e da Oceania ainda carregam DNA herdado desses cruzamentos.
Para os pesquisadores, o Yunxian 2 é fundamental para esclarecer o chamado “Muddle in the Middle”. A expressão se refere ao enigma representado pelos fósseis humanos datados de 300 mil a 1 milhão de anos.
Se confirmado como um elo entre Denisovanos e os primeiros Homo sapiens, o fóssil chinês pode ser uma das chaves para entender como se formaram as principais linhagens do gênero Homo.