O portal G1 traz um dado que escancara uma ferida aberta. Em Minas Gerais, apenas 10,5% dos alunos do Ensino Médio aprendem o esperado em português e matemática, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica, da ONG Educação para Todos. Em outras palavras, de cada dez jovens que chegam ao final da educação básica, nove saem sem a proficiência mínima nas duas disciplinas que estruturam todo o conhecimento.
Eis a contradição: Minas figura entre os estados com melhor infraestrutura escolar. Praticamente todas as escolas têm água encanada, energia elétrica e banheiros. No papel, parece um paraíso. Na prática, é um deserto de aprendizagem. Não adianta sala com ventilador se o giz não risca ideias. Não adianta prédio pintado se o idioma é desconhecido e o cálculo não se sustenta.
Um retrocesso ano a ano
Nos anos iniciais do fundamental, quase metade dos estudantes atinge o nível adequado de português e matemática. Nos anos finais, esse percentual cai para cerca de 19%. Ao chegar ao ensino médio, o desfecho é cruel: apenas 10,5%. É como se a cada etapa fosse arrancado um pedaço da esperança da formação de nossos jovens.
O problema não está apenas na sala de aula, a desigualdade social impõe barreiras invisíveis. Crianças sem acesso a livros em casa, jovens que dividem espaço de estudo com o barulho da sobrevivência, professores mal remunerados e com baixíssima qualidade e formação. A pandemia foi só a pá final de terra sobre uma cova que já vinha sendo cavada.
Não basta estrutura física se não há formação continuada para professores, diagnóstico individualizado de lacunas e programas eficazes de recuperação. O que se vê são políticas de improviso, currículos mal formulados, e promessas de resultados que não resistem a uma observação mais detalhada.
A verdade é dura. Estamos formando gerações de jovens que chegam ao mercado de trabalho sem domínio da leitura e da lógica elementar. E uma sociedade que não garante essas habilidades básicas mostra sua própria irrelevância.
O caminho não é mistério. É prioridade. Focar em português e matemática sem abandonar as demais áreas. Valorizar o professor com carreira atraente e apoio pedagógico real. Professores mais preocupados em engajar ideologicamente os alunos se esquecem que sem português e matemática, não há ciência, não há tecnologia, não há futuro.
É preciso transformar esse número em indignação e indignação em política pública. O que está em jogo não é apenas o boletim escolar. É a capacidade de uma geração sonhar e construir.